Com a aproximação das eleições presidenciais de 2018, estamos em um momento político muito próximo do que houve durante a redemocratização no final dos anos 80, em que não obstante a encruzilhada econômica havia também uma patente crise institucional, e um sentimento quase unânime de falta de representatividade.
Todavia, mesmo com a suposta redemocratização, a crise de representatividade política veio a se intensificar de tal forma que hoje toma proporções insustentáveis, fazendo do debate político um campo de idéias totalmente pulverizado.
É nesse cenário que Jair Bolsonaro, retratado como o “anti-herói” da política tradicional, é enfático ao dizer que o que lhe falta em dinheiro e marketing, lhe sobra em apelo popular.
Seus discursos atingem em cheio o cidadão médio, cansado de carregar nas costas um país falido, sem se sentir representado pela “política de sempre”. Apesar de ter em sua bagagem política posturas duras e consideradas “anti-políticas”, é exatamente isso que seu eleitorado quer ouvir, e aguarda avidamente por sua concretização.
É o candidato que surge como aquele que exprime as opiniões que o “onisciente coletivo” concorda, mas que teme em se manifestar. Bolsonaro supre as expectativas do cidadão brasileiro que trabalha e produz, que aguarda pelo enfim momento de prosperidade, sendo sua candidatura um verdadeiro experimento social, capaz de medir o grau de conservadorismo e defesa das tradições existente no Brasil.
Sua notoriedade se deve à sua oposição voraz à agenda associada aos movimentos políticos de esquerda, relacionadas a questões concernentes aos “direitos das minorias”, e sobretudo à segurança pública e soberania. O presidenciável trouxe para o debate nacional, a questão da segurança pública, tema que impacta cada vez mais aspectos sociais e econômicos.
Dentre os pontos mais atacados pelo deputado, estão: a estrutura da política de Direitos Humanos, a questão indígena, as agendas de reforma agrária, e sobretudo, a manobra política utilizada para contornar o resultado do plebiscito acerca do insidioso “Estatuto do Desarmamento”, que não apenas falhou miseravelmente, como intensificou a situação do cidadão brasileiro como presa indefesa da criminalidade.
Jair Bolsonaro devolve aos brasileiros a ideia de pátria, de identidade, de união, buscando desfazer e desaparelhar as estruturas criadas nas gestões anteriores, as quais culminaram com a polarização maniqueísta que hoje vivemos. Bolsonaro promete reaver o orgulho de ser brasileiro, de ser “filho da pátria mãe gentil”.
O presidenciável em seu discurso nos demonstra pautas adequadas ao momento que o Brasil vive, não ficando bitolado no discurso que fazia nos anos 90, quando estava iniciando na política, e em que a cadeira presidencial era ocupada pelos “Tucanos”. Jair Bolsonaro do século XXI fala em um país grande, mas distanciando da ideia de Estado inchado. Sua narrativa é de um país que cresce em razão do desenvolvimento econômico, do emprego, do giro de capital.
A despeito da postura acerca da segurança e da soberania, Jair Bolsonaro buscou seu apoio em Paulo Guedes, economista e acadêmico de respeito, e figura bem aceita aos olhos do mercado. Com essa decisão, e já anunciando Guedes como seu Ministro da Fazenda, Bolsonaro acertou em cheio, contornando um dos maiores desafios da política: a aceitação por parte dos setores produtivos.
Bolsonaro com seu discurso favorável à livre iniciativa, buscando facilitar as atividades comerciais e empreendedoras, desburocratizando, desregulamentando, e construindo um ambiente mais amistoso aos negócios, gera perspectivas para um país que vem se arrastando em meio a uma crise generalizada que se prolonga de forma intensa.
Em suas declarações mais recentes, Bolsonaro tem mostrado que suas pautas não apenas estão alinhadas com a indústria e comércio, mas com toda a estrutura econômica, defendendo inclusive a necessidade de que tenhamos bancos e instituições financeiras capazes de tornar o ciclo econômico virtuoso, e para tal, entende necessário reduzir a interferência direta do Estado na economia, inclusive se postando favorável à redução da participação da administração pública no âmbito econômico.
Sendo inclusive um dos pontos que mais se destaca em meio às propostas do candidato a possibilidade de desestatizar instituições que tradicionalmente são utilizadas com claro viés partidário-ideológico pelo governo.
Ainda com o intuito de “moralizar” a administração pública, Bolsonaro é incisivo em suas considerações acerca dos gestores públicos, não poupando críticas às indicações políticas para funções públicas, argumentando justamente que a competência técnica é primordial, sendo ponto focal da gestão, e não a vinculação partidária. Com essa postura, Jair Bolsonaro deixa claro que, ao contrário do que seus opositores alegam, estamos diante de um liberal republicano.
Mesmo em questões mais delicadas, acerca dos direitos trabalhistas e a equiparação salarial, Bolsonaro lava as mãos, se manifestando que não cabe ao governo qualquer intromissão, deixando que as regras de mercado façam essa filtragem.
Em seus termos, Jair Bolsonaro de forma lúcida reconhece que o custo de manter uma entidade produtiva com empregados é dispendiosa, e ainda assim não é capaz de gerar o devido retorno aos empregados, e menos ainda para a sociedade.
Quanto a pauta das reformas iniciadas ao longo do conturbado governo Temer, Bolsonaro ressalta que os erros da “constituição cidadã’, que de forma normativa garante um vasto rol de direitos, que condizem com a realidade que encaramos, e com seu discurso franco e certeiro, Bolsonaro aponta o binômio “Todos os direitos e nenhum emprego, ou menos direitos para que haja emprego”. O seu discurso é também reverberado por seu vice presidente, general Mourão, o qual já se manifestou acerca dos exageros previstos na Constituição Federal.
Desconsiderando a suposta inexperiência política de Bolsonaro, ou seu desconhecimento acerca da economia, Bolsonaro tem seu respaldo no apoio popular, sobretudo com a indignação da população brasileira com a política e seus personagens. Dessa forma, ele é visto por muitos como a única alternativa de mudança.
Ricardo L.R Saul Advogado e Consultor. Formado em Direito pelo IBMEC-RJ e graduando em Ciências Contábeis pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Autor do livro: “A Legitimidade e Necessidade de Regulação das Atividades de Lobbying – Ed. Lumen Juris”.