Por que voto em Simone Tebet | Eleições 2022

Em 2019 e 2020 os bolsonaristas atacavam virulentamente o presidente da câmara, Rodrigo Maia, ainda que o mesmo tenha sido o maior responsável (juntamente com Michel Temer) pelas medidas econômicas mais importantes dos últimos 15 anos, como as reformas da previdência e trabalhista, fundamentais inclusive para o desempenho econômico do país neste ano e nos próximos, e outros pontos como o marco do saneamento. Seu sucessor, Arthur Lira, além de não ter dado muita sequência a isto (apenas encaminhou alguma coisa de reformas micro de Guedes e a privatização cheia de jabutis da Eletrobrás), tem causado estragos de alto calibre no orçamento, e os militantes do atual presidente têm sido verdadeiras “thutchucas” com ele. O populismo do século XXI tem este componente: nele as mentiras, as dissimulações e as persuasões não são mais usadas predominantemente para se defender, mas para atacar, difamar e destruir reputações. As pessoas não costumam aceitar este patamar de manipulação nas suas relações pessoais – elas deveriam fazer o mesmo na política, mesmo porque o principal alvo agora é o próprio sistema eleitoral.

Polarizando com o Bolsonarismo, há o grupo político que introduziu este modus operandi no nosso país – em 2014 eles veicularam repetidamente, em horário nobre na televisão, um vídeo induzindo os eleitores a acreditarem que Banco Central independente, naquele momento defendido por Marina Silva, tiraria a comida da mesa da população carente. Este mesmo grupo foi contra o plano Real (aliás, o atual presidente também), a lei de responsabilidade fiscal e a até mesmo o sancionamento da constituição federal brasileira. Foi também contra o impeachment do atual presidente no momento no qual ele estava mais fraco – e agora pede “voto útil” para vitória no primeiro turno. Mas as eleições de 2024, 2026, e mesmo 2028 e 2030 começam agora – o primeiro turno é o momento de fortalecer o campo democrático não populista, para que ele não seja engolido e tornado inerte. E observo que no segundo turno meu voto é em qualquer um contra Bolsonaro.

Mas meu voto em Simone Tebet não se deve apenas a dizer não ao populismo. Tem igualmente como fundamentos eu gostar de sua pessoa e ainda mais de seu programa de governo. Como pessoa, ela tem sido há anos inimiga de grande parte da ala mais fisiológica do seu partido, e o mesmo ocorreu frente ao PSDB quando se formou a chapa que ela encabeça, e ela atuou com dignidade como prefeita e como parlamentar.

Quanto ao plano de governo, destaco a de cara a qualidade do time que o elaborou. Tem uma proposta de reforma tributária como esta deve ser, ao contrário da concentração em um único tributo distorcivo como a proposta pela candidata do União Brasil, ou uma possível penalização excessiva ao capital, que pode ser pretendida pelo PT. E enquanto Ciro bate nas teclas do anacrônico desenvolvimentismo, frequentemente profere equívocos graves sobre o regime de metas de inflação, e defende plebiscitos recorrentes (que na América Latina tem sido a porta mais larga para a irresponsabilidade fiscal) Simone Tebet segue o caminho que as evidências têm indicado ser o melhor para gerar crescimento e coordenação adequada das expectativas inflacionárias. Lembrando ainda que as ideias dos economistas do PT são bastante ruins, ainda que o programa de Lula tenha assinalado ao menos que manterá o regime de metas de inflação e trabalhará com equilíbrio fiscal.

Fora do âmbito da economia, o programa de Simone Tebet vai além de generalidades, como quando é a única a dizer que vai “acelerar a adoção, a informatização, a consolidação e a análise de regularidade do CAR (Cadastro Ambiental Rural), previsto no Código Florestal” (observando que o atual governo deixou o PRA, Programa de Regularização Ambiental, sem prazo, de modo que o mesmo não está andando), ou quando explicita “revisar e atualizar o Código de Processo Penal e a Lei de Execução Penal.”

Em educação, Simone prioriza a primeira infância, a integração do trabalho frente a ela com o ensino fundamental, o fomento ao ensino em tempo integral, qualificar professores, e a implementação da ótima reforma do ensino médio aprovada por Temer e Maia, que está parada há 4 anos em função da acefalia do ministério da educação no atual governo federal.

Em saúde, propõe melhorar a gestão e aumentar a dotação do SUS e fortalecer o Saúde Família e a telemedicina – mas suponho que isto não seja muito diferente das propostas de outros candidatos, ressalvando talvez a incógnita sobre o que esperar de um governo Bolsonaro com relação às vacinas.

Em resumo, meu voto vai para uma candidata não populista, com um retrospecto pessoal digno, e que tem o melhor plano de governo.

André Lunardelli
Doutor em economia pela FEA-USP, ex-professor adjunto da UFG e empresário na Santa Branca.


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