Uma expressão (ou desculpa) muito utilizada para justificar gastos supérfluos é a de que “caixão não tem gaveta”. E se eu ficar guardando dinheiro e morrer cedo? De que adiantaria guardar dinheiro se não levaremos nada dessa vida? Por esse ponto de vista, deveríamos viver a vida, gastar com o que temos vontade e aproveitar o presente.
Pois bem, mas e se você não guardar dinheiro e morrer tarde? O melhor exemplo para ilustrar tal situação é Jorge Guinle. Herdeiro de umas das famílias mais ricas do Brasil, Jorginho – como era conhecido – se orgulhava de dizer que nunca havia trabalhado e estimava ter torrado mais de 100 milhões de dólares ao longo da vida. Na década de 80, vendeu o Copacabana Palace, herdado de sua família, para manter a gastança. O dinheiro acabou antes de Jorginho morrer. Entre a falência financeira e sua morte, ele passou alguns anos morando de favor em um quarto do Copacabana Palace cedido pelos compradores. Nas palavras de Jorginho: “O segredo do bem viver é morrer sem um centavo no bolso. Mas errei o cálculo e o dinheiro acabou antes da hora”.
Como os economistas gostam de dizer, há um trade off entre gastar hoje versus poupar para gastar mais no futuro. Um planejamento financeiro de longo prazo deve buscar um equilíbrio: não poupar nada hoje é desastroso para o futuro. Guardar todo o dinheiro para o futuro nos priva de prazeres presentes. Qual seria, então, a quantia necessária para garantir um futuro tranquilo sem sacrificar o presente?
A resposta para essa pergunta não é simples nem única. Depende de cada pessoa, dos planos, expectativas e desejos particulares de cada um. Colocando de um jeito simples, direto e generalizado: planeje ter um patrimônio de aproximadamente 200 vezes o valor que você pretende ter de renda mensal ao parar de trabalhar. Uma carteira diversificada e conservadora rende, atualmente, inflação mais 5% ao ano. Com 200 salários, pode-se viver do rendimento e manter o patrimônio corrigido à inflação. Exemplo: um patrimônio de R$ 1 milhão hoje garante uma renda vitalícia de R$ 5.000 mensais.
Num primeiro momento, essa conta pode chocar as pessoas, fazendo-as imaginar que jamais atingirão tal patrimônio. Porém com as taxas de juros atuais, é possível dobrar o patrimônio em aproximadamente 8 anos. Isso significa que R$ 100 aplicados mensalmente viram R$ 163.000 daqui 30 anos (de forma análoga, R$ 1.000 mensais se transformam em R$ 1,6 milhão). Ou seja, poupar desde cedo e de forma consistente permite que a mágica dos juros compostos possa facilitar muito o trabalho.
Temos, assim, como estimar o patrimônio necessário e como alcançá-lo. Mas como definir a renda desejada para a aposentadoria? Ela deve ser maior, menor ou igual à renda atual?
Mais uma vez, a resposta depende de cada um. Porém algumas considerações são importantes. Ao se aposentar, você pode escolher viver numa cidade mais barata. Por exemplo, quem trabalha numa capital pode se mudar para o interior, onde o custo de vida é menor. Por outro lado, tenha em mente que os gastos com saúde (plano de saúde e remédios) aumentam. Quanto você espera gastar com lazer? Uma caminhada no parque é suficiente ou você gosta de viajar? Esses e outros fatores precisam ser levados em consideração na hora de pensar qual seria a renda mensal necessária para a aposentadoria.
Ter esses pontos em mente facilita definir quanto guardar hoje e quanto é necessário atingir no longo prazo. Não deixe para começar a poupar amanhã. Quanto antes começar, mais fácil e suave será o processo e mais rápido você atingirá seus objetivos. O longo prazo chega e, quando chegar, é bom estar preparado. Nós, meros mortais, não teremos um quarto no Copacabana Palace para morar de favor.
Vladimir Damiani Caridá, graduado em Economia Empresarial e Controladoria pela FEARP/USP. Atualmente, cursa mestrado em Economia no Insper e trabalha em banco.