Ruptura no Terraço #8

Ruptura no Terraço é uma colaboração de conteúdo entre The Shift, a plataforma de jornalismo de dados da ÍON 89 e Terraço Econômico. Neste espaço a disrupção tecnológica, especialidade da primeira, se une aos temas do segundo: economia e política.

Brasil empaca em competitividade digital

O Brasil estagnou na 57ª posição da edição 2019 do Ranking Global de Competitividade Digital, produzido pelo Núcleo de Competitividade Global da escola de negócios suíça IMD, em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC). Foram avaliados 63 países, considerando três fatores: Conhecimento (a capacidade de entender e aprender novas tecnologias); Tecnologia (a competência para desenvolver novas inovações digitais); e Prontidão Futura (a preparação para os desenvolvimentos no futuro).

Na América Latina, México e Colômbia foram os únicos países que avançaram no ranking deste ano. A falta de recursos para apoiar os novos talentos e o desenvolvimento tecnológico impediram que a maioria dos latino-americanos registrasse melhoras em relação aos indicadores de geração de conhecimento e aproveitasse ao máximo as transformações digitais.

Os economistas consideram a competitividade vital para a saúde a longo prazo da economia de um país, pois capacita as empresas a alcançar um crescimento sustentável, gerar empregos e, finalmente, melhorar o bem-estar dos cidadãos. Os cinco principais países do ranking não mudaram este ano. Os EUA continuaram no topo da lista de rankings, seguidos por Singapura na 2ª, Suécia na 3ª, Dinamarca na 4ª e Suíça na 5ª.

6 tecnologias transformadoras para infraestrutura

A transformação tecnológica tem tudo o que é necessário para revolucionar a infraestrutura urbana. No entanto, os tomadores de decisão, por várias razões, ainda hesitam em criar o ambiente favorável para a adoção generalizada dessas tecnologias emergentes, alerta Joseph Losavio, especialista de Cidades, Infraestrutura e Serviços Urbanos do Fórum Econômico Mundial.

A mudança radical pode vir de seis tecnologias inovadoras:

Segundo o Global Infrastructure Huba lacuna de recursos financeiros entre o investimento projetado e o valor necessário para fornecer infraestrutura global adequada até 2040 será de US$ 15 trilhões. E o alto nível de inovação tecnológica em sistemas de infraestrutura pode ajudar a superá-la.

Disrupção lenta no setor da construção

A indústria global da construção está na rabeira da transformação digital e do uso de tecnologias disruptivas. O custo é alto: embora seja uma das indústrias globais que mais cresce, sua taxa de produtividade anual aumentou só 1% nos últimos 20 anos. Vai valer US$ 12,7 trilhões em 2022, mas poderia acrescentar US$ 1,6 trilhão se adotasse a digitalização. Mas 41% do setor ainda está na fase primária de avaliar tecnologias e o que fazer a respeito.
Os dados do KPMG Future-Ready Index de 2019 para o setor mostram que as cinco tecnologias mais usadas pelas innovative leaders (20% do total) são BIM (Building Information Modeling), Analytics de dados, sistemas de gestão de informação e projetos, drones, e plataformas móveis.

A economia circular é um caminho sem volta

Com a sustentabilidade em alta na preferência dos consumidores e acionistas, os diretores da cadeia de suprimentos (CSCOs) devem se preparar para mudar de uma cadeia linear para uma circular sem desperdício. Segundo o Gartner, em 2029, a economia circular será a única economia, substituindo economias lineares desnecessárias.

As organizações estão sendo pressionadas a reduzir a quantidade de resíduos que estão produzindo, tanto por parte dos consumidores quanto de governos”, diz Steven Steutermann , vice-presidente gerente da cadeia de suprimentos da Gartner.

O modelo circular cria capital econômico e social. Analisa a maneira como os materiais são adquiridos, a viabilidade ética e ambiental da fabricação e as múltiplas vidas que um produto pode ter. Por isso, um dos principais desafios da economia circular, segundo o Gartner, é a definição de metas significativas e mensuráveis. Afinal não dá para medir o novo com as métricas do passado.

É hora do Brasil regular a IA?

Medo e falta de conhecimento são capazes de produzir normas proibitivas que interrompem o progresso, como é o caso do Projeto de Lei nº 5.051/2019, em tramitação no Senado, que propõe diretrizes para o uso da Inteligência Artificial no Brasil.  E essa é apenas uma das muitas críticas ao texto proposto pelo senador Styvenson Valetim (PODEMOS-RN).

É restritivo, disseram alguns CIOs e CDOs.  “Há uma preocupação clara do legislador com os possíveis impactos negativos do uso da IA, desconsiderando oportunidades que o Brasil poderia ter se encarasse o assunto seriamente, a exemplo de outros países. Se esta visão prevalecer, no longo prazo teremos amarras comprometendo todas as empresas”, comentou um deles que preferiu não se identificar.

É prematuro, opinou um representante da indústria. “Antes de avançar para uma regulamentação a gente deveria promover um amplo debate nacional, qualificado, sobre uma estratégia de Inteligência Artificial. Um projeto de nação nessa nova era digital. Mais de 30 países já têm as suas estratégias, suas políticas públicas para IA. A sociedade brasileira ainda não amadureceu esse debate”, disse Andriei Gutierrez, diretor de Assuntos Governamentais e Regulatórios da IBM Brasil, que defende que o nosso país passe por um processo análogo ao que deu origem ao “Ethics guidelines for thustworthy AI” europeu, embrião de uma possível regulação para a União Europeia.

É bastante incipiente, raso, pouco técnico, requer ajustes, disseram alguns advogados. “As audiências públicas e inclusões de propostas de complementação certamente enriquecerão o processo”, argumentou Ulysses Alves de Levy Machado, ex-Coordenador Geral de Segurança da Informação e atual assessor da presidência do órgão para implementação da LGPD. Sua preocupação maior, assim como a de Andriei, é com o disposto no artigo 4º, de que todo sistema de Inteligência Artificial terá a supervisão de uma pessoa humana, de forma compatível com cada aplicação.

A polêmica é a similar a do artigo vetado na LGPD sobre a possibilidade de revisão humana para as decisões automatizadas. “A lei precisa ser principiológica, e essa é uma questão infralegal”, afirma Andriei. “Auditar, controlar e entender a inteligência artificial é uma das tarefas mais trabalhosas da ciência; dito de outra forma, realizar a engenharia reversa em técnicas avançadas de IA é um trabalho hercúleo e, em hipótese alguma, pode ser atribuído a uma única pessoa”, argumentam os advogados Daniel Becker, Isabela Ferrari e Bernardo Araújo, em artigo para o site Jota.

O PL tramita e será apreciado em caráter terminativo na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado, passando depois ao Plenário. Se aprovado, seguirá para a Câmara. “Uma matéria tão complexa merecia passar por outras comissões”, provoca Andriei.  Até porque, é uma proposta bastante simples e reduzida. Mas, “apesar disso, pode ser compreendido como um ponto de partida para o início das reflexões e discussões sobre o tema”, opina Maria Clara Seixas, especialista em Compliance Digital.

Regras para compra de IA no setor público

O Reino Unido será o primeiro a testar as diretrizes de compras governamentais para Inteligência Artificial (IA) elaboradas pelo Fórum Econômico Mundial, potencialmente acelerando o uso da IA no setor público.

As diretrizes foram projetadas para ajudar os funcionários públicos a acompanhar essa tecnologia em rápido desenvolvimento e a mitigar os riscos.  Por isso, há muitas recomendações sobre a avaliação da disponibilidade e qualidade dos dados, bem como na necessidade de criar estruturas robustas de governança de dados e de ter uma visão profunda das limitações e preconceitos dos dados.

A opinião de Matt Warman, ministro para o Digital do Reino Unido, é a de que ao adotar uma “abordagem dinâmica”, o governo pode “impulsionar a inovação, criar mercados competitivos e apoiar a confiança do público na Inteligência Artificial”.

Socorro, sumiram os estatísticos!

Sem Estatística não existe analytics, nem ciência de dados e tampouco aplicações de inteligência artificial. O mercado busca freneticamente esses profissionais que, segundo o ranking anual do CareerCast.com, estavam entre os cinco mais bem remunerados nos EUA em 2018, com salário médio anual de US$ 84.060. E a carreira está na lista das mais relevantes para a nova economia, segundo o estudo Future of Jobs, do Fórum Econômico Mundial.

No entanto, segundo dados do Conselho Regional de Estatística da 3ª Região (CONRE-3) e do INEP, sobram empregos no Brasil mas faltam profissionais formados. Da média de 2 mil ofertas de emprego para estatísticos oferecidas através do CONRE-3, só 20% são preenchidas. Porque estamos vivendo um apagão de formandos em Estatística: o número só diminui desde 2004, ao contrário dos EUA, que multiplicaram por cinco o número de profissionais formados na área.

Não faltam escolassão mais de 30 no país, a maioria delas públicas, segundo o CONRE-3. Mas faltam estudantes. Os principais problemas: falta de interesse e conhecimento sobre a importância da profissão entre os jovens e alta evasão dos cursos porque chegam às universidades estudantes pouco preparados em matemática, por exemplo.

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