A Covid Fiscal Lulista e os Governadores

Quem fez as contas sobre dinâmica da dívida sabe qual é o grau de irresponsabilidade do pedido de gastos entre 175 e 198 bilhões de reais acima do orçamento de 2023, e repetidos durante 4 anos.

Sabe que o auxilio Brasil é só uma desculpa para a aprovação do direito de gastar muito mais.

Mas Lira, que junto com Bolsonaro havia usado a mesma estratégia às vésperas da eleição, sabe que, além de gerar um problema macroeconômico grave, dar o aval a esta proposta seria uma péssima negociação para ele. O mesmo parece ter sido visualizado por uma parcela expressiva do legislativo federal. E Tasso Jereissati e Alessandro Vieira, dois senadores do PSDB com históricos consistentes pró responsabilidade fiscal, já protocolaram PECs cobrindo apenas o estrito necessário.

Enquanto isto, os governadores eleitos ainda não se manifestaram. Eles que estão com as finanças bastante baqueadas depois das mudanças no ICMS às vésperas das eleições – juntar a isto uma política macroeconômica inconsistente poderia gerar uma “tempestade perfeita.” Tal silêncio provavelmente se deve a conjunção de vários fatores – discutir o orçamento federal não é função deles, estão focados no planejamento dos seus novos mandatos, e o confronto logo de cara com o presidente recém-eleito não é uma política prudente.

Mas tivemos, ainda há pouco tempo, a tempestade da Covid, e este outro choque pode trazer lições relevantes frente ao possível novo temporal, principalmente porque ainda está em tempo de ele ser evitado. Se na pandemia os governadores tiveram um papel fundamental para reverter os equívocos de um presidente quanto à saúde pública, um movimento semelhante pode ser feito para defender o país de uma ameaça grave a solvência do setor público brasileiro.

Lideranças como Eduardo Leite, Romeu Zema, Tarcísio de Freitas, Raquel Lira e outros tem perfil para uma articulação como esta. De ponto de vista político pessoal para cada um deles este passo parece interessante também, desde que pautado no diálogo construtivo/democrático – feito com muito cuidado e sem agressão.

André Lunardelli
Doutor em economia FEA-USP, empresário e ex-professor adjunto da UFG

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