Você no Terraço | por Leonardo Metsavaht
O grande declínio do iBovespa nos últimos anos vem demonstrando uma forte relação crescente entre política e economia no cenário brasileiro. Em primeiro lugar, a própria economia reflete a falta de previsibilidade e de confiança do atual governo, com a queda acentuada nos investimentos, no consumo e o aumento da inflação e do desemprego. Nessa perspectiva, a Bolsa de Valores de São Paulo passa por um momento de forte baixa marcada pela insegurança de se aplicar no país. Recentemente, o desenrolar da Operação Lava Jato e a consequente citação do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Roussef na delação do senador Delcídio Amaral, fizeram com que o índice subisse 5,12% em um dia, a maior alta percentual diária desde 2009 (até aquela data). Nesse mesmo dia, a Petrobrás subiu 16% e a Vale, quase 10%. Tudo isso, devido a um fervor do mercado pela maior chance, a partir de então, de uma saída do atual governo do comando político nacional.
economia por todo o mundo e questionar, a partir daí, o que uma mudança radical no cenário norte-americano, com uma hipotética eleição de Donald Trump ou de Bernie Sanders, pode causar tanto para a economia quanto para as principais Bolsas dos Estados Unidos. E também, devido ao seu importante papel na conjuntura econômica global, que efeitos isso poderia trazer para o mundo, e em especial, para o Brasil e para a Bovespa.
É bem verdade que historicamente o mercado financeiro norte-americano não demonstrou se importar tanto com as eleições dos EUA. O pensamento era que os candidatos, de qualquer que fosse o partido, uma vez no poder, tenderiam à manutenção do establishment e da ortodoxia econômica. Contudo, agora o cenário marcado por um extremismo aparentemente convicto de Trump e Sanders representa uma ameaça ao mercado. Ambos candidatos se veem como um rival do outro no que se refere a suas ideologias. Um representa mais o que é denominado como Direita (sendo por alguns considerado até como fascista), enquanto o outro está do lado da Esquerda e se auto-denomina, um socialista. A disparidade entre a opinião dos dois em inúmeras questões é evidente, contudo, em alguns temas, como a economia, por exemplo, ambos estão bem mais próximos do que parece e do que gostariam de assumir.
O senador socialista Bernie Sanders tem como principais bandeiras a luta contra a desigualdade social e contra o aquecimento global. Faz duras críticas à Wall Street e às grandes corporações e grande oposição à abertura comercial e aos acordos de livre comércio que são vistos, por ele, como prejudiciais aos trabalhadores americanos por obrigá-los a disputarem com trabalhadores de outras partes do mundo, como os mexicanos, que recebem um salário muito menor. Desse modo, demonstra uma posição isolacionista, nacionalista e protecionista. Ele ainda defende a educação superior gratuita que seria garantida por um imposto sobre a especulação financeira, o dobro de salário mínimo estabelecido pela lei federal, um grande aumento dos impostos (principalmente para os ricos), uma maior regulação e taxação de Wall Street e suas operações, uma reforma nas agências de classificação de risco, limitações nos juros do cartão de crédito, saúde universal nos moldes do Canadá e dos países escandinavos, dentre outras medidas de caráter populista.
Um estudo divulgado pela campanha de Bernie Sanders sobre a estimativa do impacto de suas propostas econômicas[1] deflagra o populismo do senador. Apesar da Comissão de Orçamento do Congresso prever uma diminuição na força de trabalho nos EUA por razões demográficas, o estudo afirma que com Sanders no governo, ela cresceria bastante resultando num crescimento real de 5,2% da economia ao ano. Tal estudo gerou polêmica quando quatro economistas também vinculados ao partido democrata norte-americano condenaram as projeções da campanha por não serem viáveis e economicamente críveis. Sanders respondeu chamando os críticos de “elite corrupta”.
Enquanto isso, no lado republicano, o famoso empresário do setor hoteleiro Donald Trump também desvia da ortodoxia econômica. O candidato é principalmente marcado por inúmeras propostas condenáveis, como a construção de um muro na fronteira com o México para conter a imigração ilegal no país, a vigilância de mesquitas muçulmanas em solo americano, tortura de suspeitos de terrorismo, deportação de 11 milhões de imigrantes ilegais e uma ampla reforma de restrição de imigrantes e de seus direitos, além da negação da nacionalidade americana para filho de imigrantes ilegais. Por essas e outras, Trump é considerado por muitos, racista, xenófobo No que se refere à economia, Trump sinaliza com uma reforma na tributação, a fim de aliviar os impostos pagos pela classe média e pelo setor financeiro. Em especial, a questão mais relevante de sua política econômica se insere num contexto internacional. Ele afirma que a China e sua manipulação monetária estão “roubando dos americanos bilhões de dólares em capital e milhões de empregos” e defende que sejam aplicadas sanções ao país, além de taxas compensatórias que viriam na forma de tarifas alfandegárias. Trump quer forçar as grandes empresas americanas a produzirem nos EUA e não em países como China e México, com a justificativa de dar mais emprego aos norte-americanos. Seu discurso fala de aplicar um imposto de 35% para que os produtos cruzem a fronteira dos EUA e já foi direcionado à Ford e à Apple que produzem, respectivamente, no México e na China.
Desse modo, fica evidente o populismo e o nacionalismo econômico em comum dos dois candidatos. São modelos isolacionistas, extremamente protecionistas e contrários ao livre comércio e à imigração. Fogem do establishment norte-americano e da ortodoxia e carecem de viabilidade econômica. Estão, portanto, destinados ao fracasso. Ambos ignoram todo o desenvolvimento e evolução dos níveis de renda, da produtividade e da qualidade de vida trazidas pelo comércio e abertura internacional.
A economia norte-americana e Wall Street
Tais visões trazem uma grande desconfiança e representam uma grande ameaça à economia e ao mercado acionário norte-americano. Como dito, ambos candidatos afirmam que colocarão em prática políticas economicamente protecionistas. Eles acreditam que podem e devem trazer de volta, por meio de tarifas e regulação, os empregos que estão sendo oferecidos em outras partes do mundo, como México e China por empresas americanas. Tal medida traria consequências devastadoras para a economia e para a população dos EUA. Em primeiro lugar, os bens e serviços importados (que são importados porque existe uma demanda) ou que serão produzidos no país, se tornarão muito mais caros e será mais difícil para a população ter acesso a eles. Além disso, a barreira comercial se dá sempre de forma regressiva. Os pobres são o que mais sofrem, pela decorrente dificuldade de acessar produtos e serviços de melhor qualidade a preços menores.
Produzindo-se em um setor menos competitivo e eficiente a qualidade dos produtos tende a diminuir. O livre comércio e a abertura comercial redirecionam o dinheiro pelo mundo para as indústrias mais eficientes. Não se trata de um jogo de soma zero. Os americanos compram bens e serviços do exterior. Com esse dinheiro, o exterior também compra produtos americanos e usam os dólares restantes para investir no próprio EUA. Todos saem ganhando.
Mesmo que o protecionismo gere um aumento dos salários, o nível de preços crescerá de forma bem mais rápida. Dessa forma, tanto Trump como Sanders demonstram desconhecer o que realmente importa: o salário real. Além disso, as barreiras protecionistas não trarão de volta os empregos, apenas reduzirão o crescimento de longo prazo e aumentarão a inflação e a ineficiência.
Sanders, especificamente, ainda defende um grande aumento de impostos. Um deles, que seria usado para financiar a educação superior gratuita, viria por meio da taxação das transações financeiras (FTT) num explícito confronto com Wall Street. Esse imposto é conhecido como Robin Hood Tax, mas não funcionaria muito bem como Robin Hood, pois deve tornar na verdade, todos mais pobres. Diminuirá consideravelmente a atividade financeira e consequentemente, a arrecadação do governo no agregado, além de desincentivar os investimentos e causar um impacto negativo sobre o emprego
No contexto de mercado de trabalho, o democrata ao afirmar que a criação de empregos não é verdadeiramente benéfica se não vem acompanhada de um aumento do salário mínimo, defende que este dobre para US$15,00 por hora. Ao consideramos a intenção declarada de Sanders de aumentar o número de empregos para os norte-americanos, tal política de salário mínimo não parece coerente. O resultado será o oposto, além de provocar um grande aumento no nível de preços.
O populismo de Sanders também se dá, é claro, nos setores de saúde e educação, como citados anteriormente. O socialista defende um sistema de saúde que atenda a todos, que não funcione só para os mais ricos, que priorize a saúde das famílias e não os lucros das companhias de seguro, que não obrigue os trabalhadores a barganhar entre melhores salários e melhores seguros de saúde e que não faça as pessoas terem medo de perder o seguro quando perderem ou trocarem de emprego. Ele defende ainda que a indústria farmacêutica cobre menos dos remédios. Trata-se de um discurso muito bonito, mas que apresenta uma grande complexidade e viria por meio de muito imposto à medida que o sistema de saúde atenderá a mais gente e terá uma maior cobertura. Desse modo, o programa de garantia de saúde universal , pode não trazer uma economia para as pessoas, pois seria financiado por um grande um aumento de impostos. Além disso, médicos, hospitais, a indústria farmacêutica e as companhias de seguro lutarão em favor de seus interesses, contra políticas que restrinjam seus ganhos. E aqueles que possuem um bom seguro de saúde não vão querer perder seus privilégios.
No que se refere à educação superior gratuita, os impostos necessários para que isso seja garantido, no caso, os sobre as transações financeiras, terão também que se expandir e exercerão um impacto significativamente negativo sobre a economia, principalmente, no investimento e no consumo. É extremamente improvável que as medidas de Sanders sejam pagáveis, assim como as de qualquer outro populista clássico. O preço seria uma queda muito grande na atividade financeira e economia dos EUA e também do sistema internacional. Segundo estudo da Tax Policy Center, os planos do democrata determinarão um aumento de impostos de 6,4% do PIB americano durante os próximos 10 anos e de 7%, ou seja, mais de US$25 trilhões, na década seguinte. Todos os grupos sociais pagarão mais impostos, no entanto, o peso sobre os mais ricos será maior do que atualmente. Os 1% mais ricos serão responsáveis por 38% da arrecadação e os 0,1% mais ricos por 25%. [3]
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Do outro lado, Donald Trump também defende a saúde universal, mas ao priorizar a criação de empregos, acredita que um salário mínimo baixo não é um problema para os EUA. O republicano quer ainda simplificar o código tributário e reduzir os impostos para os pobres, ricos e empresas. O grande questionamento é a viabilidade de tais reformas considerando todas suas outras propostas.
Uma delas, voltada contra os imigrantes ilegais, tem profunda importância no contexto econômico. Os imigrantes representam uma significativa parcela da força de trabalho norte-americana. Em 2012, representavam 5,1%, ou, 8,1 milhões de empregos segundo o Pew Reseach Center. Além disso, os imigrantes são importantes porque, comparativamente aos americanos, eles trabalham muito mais em serviços de ocupação como domésticos, cozinheiros, jardineiros e em fazendas e construção. Desse modo, a força do trabalho dos EUA e setores específicos do mercado de trabalho tenderão a sofrer uma forte pressão após a saída em massa dos imigrantes, como proposto pelo radical Trump. [4]
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Uma das justificativas usadas por ele (e também por Sanders) contra os imigrantes é que eles baixam os salários e tiram os empregos dos americanos. Na realidade, com a exclusão deles, não necessariamente os trabalhadores americanos ganharão mais. Intuitivamente, os estados que contratam imigrantes ilegais tendem a fazer com que os americanos se especializem mais e procurem mais qualificação. Essa competição aumenta a produtividade e consequentemente, a renda e o produto no longo prazo. Assim, inicialmente, com os imigrantes, o salário pode até, de fato, diminuir um pouco, mas com o tempo, contribuem para o aumento da produtividade, gerando uma maior oportunidade de negócios e consequentemente mais empregos e maiores salários.
Outra questão muito importante sobre os imigrantes é que, segundo um estudo de 2010 da Social Security Administration, eles contribuíram naquele ano com US$13 bilhões em pagamentos de impostos para a seguridade social, para os idosos, sobreviventes e deficientes. E eles só se beneficiaram com US$1 bilhão. Desse modo, sobraram US$12 bilhões que então, deixariam de existir e de prestar ajuda sem os imigrantes[4].
O republicano representa ainda uma grande ameaça à economia norte-americana devido às suas posições radicais em relação à China. Ele promete tarifas de 45% para importação de produtos chineses. Uma guerra comercial envolvendo os dois países com maior relevância econômica para o mundo pode provocar além de um grande desequilíbrio para a economia global, um grande impacto negativo sobre a economia norte-americana, é claro, tendo em vista que a China é o maior parceiro comercial dos EUA. Vale ainda lembrar que as críticas de Trump e também de Sanders, sobre a manipulação cambial chinesa não fazem sentido no cenário de hoje, visto que a China, atualmente, tenta manter o valor da sua moeda mais alto e não mais baixo como propagado pelos candidatos.
Além da China, Trump pode prejudicar a relação comercial e diplomática com os países da América Latina, do Centro e do Leste Asiático devido às suas declarações preconceituosas e sua opinião contrária aos acordos comerciais defendendo cancelar ou modificar cada acordo ou relação no comércio internacional que ele considera injusta. Desse modo, com a diplomacia afetada e o aumento das barreiras ao comércio internacional, a economia dos EUA sairá prejudicada.
Por todas essas políticas, o mercado acionário norte-americano vê como grande ameaça a ascensão de Bernie Sanders e de Donald Trump. O socialista devido a seu discurso forte contra Wall Street e por propostas de elevação de impostos e de taxação sobre as transações financeiras já o torna, evidentemente, um grande inimigo do mercado financeiro dos EUA. Desse modo, uma hipotética eleição traria significantes choques negativos para o mercado. Com o tempo e a provável dificuldade de implementação de suas medidas, os preços e a Bolsa tenderão a se ajustar (mesmo que seja para níveis menores do que o potencial atual), mas em um curto prazo o temor de um socialista presidindo o país e suas possíveis políticas, irá prevalecer, provocando uma grande queda. E mesmo que Sanders não seja eleito, o sucesso que ele vem fazendo já é preocupante para o mercado à medida que induz os outros políticos a uma aproximação ao discurso do socialista.
Do outro lado, Trump também é visto como grande ameaça a Wall Street. Mesmo sendo conhecido como um homem de sucesso no mundo dos negócios, a ideologia de suas propostas não parecem conectadas ao mundo e ao comércio global, pelo contrário, apresentam um grande isolamento. A falta de detalhamento de suas propostas e de como elas serão implementadas contribuem ainda, para a falta de previsibilidade dos agentes. Assim, é provável um grande aumento da volatilidade do mercado com a ascensão de Trump, tendo em vista suas propostas, sobretudo as guerras comerciais e as políticas anti-imigratórias e protecionistas.
Portanto, a retórica nacionalista é vista por Wall Street como uma forte ameaça à economia e aos rendimentos e lucros das empresas. Dessa maneira, se espera que a bolsa enfrente momentos de queda e de alta volatilidade com uma mudança radical no governo norte-americano.
A economia global
Tendo o extremismo tomado o poder nos EUA e as propostas sido implementadas, o mundo, é claro, também seria afetado. As reformas estruturais que tornariam a economia norte-americana mais fechada, protegida e nacionalizada somadas à desconfiança no governo estadunidense poderiam provocar um desequilíbrio na conjuntura econômica global. Basta pensar no protagonismo dos EUA na economia do mundo, a quantidade de parceiros comerciais que tem e os blocos econômicos comerciais dos quais faz parte, como a NAFTA e o recente APEC e da importância deles para o crescimento mundial. O gráfico a seguir mostra a importância que os EUA exerciam no comércio internacional em 2014 e que, até hoje exerce:
[caption id="attachment_6645" align="aligncenter" width="672"]Exportações no valor de US$ 1,62 trilhão enquanto as importações chegavam a US$ 2,40 trilhões. Cerca de US$ 4 trilhões de corrente comercial e aproximadamente 10% do comércio internacional. Fica evidente então, que inúmeros países e o mundo, como um todo, sofreriam com a mudança na política econômica norte-americana para um viés mais protecionista, em oposição ao livre comércio. O aumento das taxas de importação nos EUA, devido a seu protagonismo global, poderia provocar, ainda, um aumento similar nas barreiras comerciais dos outros países, provocando uma grande queda no sistema de comércio mundial.
Ainda, segundo relatório do FMI, nos próximos cinco anos os EUA devem ser o terceiro país que mais contribui para o crescimento mundial, atrás apenas de China e Índia[5], previsão que leva em consideração a manutenção da ortodoxia e do establishment norte-americano.
Além disso, vale lembrar que a economia no mundo todo vem passando por uma desaceleração e tem crescido menos do que o esperado nos últimos anos. Tal fenômeno foi descrito por muitos economistas como “Estagnação Secular”. Um deles, Raghuram Rajan, economista da Escola de Chicago, acredita que os EUA pode ser o motor da retomada de crescimento do mundo e a consequente escapatória da grande estagnação[6]. No entanto, se Trump ou Sanders forem eleitos presidentes, torna-se mais improvável que isso aconteça devido à grande dependência dos EUA à economia do resto do mundo, e à importância do comércio internacional no crescimento dos países e do globo. No caso de Trump poderia ser ainda pior se considerarmos sua terrível proposta de guerra comercial com a China, maior parceiro comercial dos EUA e grande player mundial, o que reforçaria ainda mais a ameaça ao crescimento da economia global. Vale lembrar que Sanders também é crítico da relação comercial com a China nos moldes atuais, no entanto, não trata do tema com o mesmo nível de radicalidade e de rivalidade do republicano.
A economia brasileira e a Bovespa
No que se refere ao Brasil, os impactos tendem a ser negativos também. O comércio bilateral com os EUA representavam (para o Brasil), 23,8% das trocas comerciais em 2012. Desde então, esse percentual despencou para aproximadamente 14,3% , o que equivale a um valor de US$ 60 bilhões anuais comercializados
Com Trump ou Sanders no poder e uma consequente economia fechada, as exportações para os EUA tenderão a se encarecer devido às taxas que sustentariam o protecionismo. As importações dos produtos americanos pelo Brasil também serão mais custosas devido ao inevitável aumento do preço desses produtos, decorrentes de políticas populistas, nacionalistas, citadas anteriormente, como: forçar as empresas norte-americanas a produzir nos EUA; impor altas taxas para que produzam no exterior; aumento de impostos e do salário mínimo (no caso de Sanders). Dessa maneira, o fluxo comercial entre Brasil e EUA tenderá a diminuir. O mesmo raciocínio vale para a economia mundial. O grande problema dessa situação é que isso torna mais difícil o acesso de bens e serviços de melhor qualidade para as pessoas de todo o mundo, tanto por uma questão de preço mais altos quanto por uma questão de menor quantidade, e termina por levar a uma diminuição da qualidade de vida e do crescimento da renda real.
Prever a respeito do impacto (se é que existe) de uma vitória de Trump ou Sanders sobre a Bovespa já é uma tarefa mais complicada. Nenhuma previsão acerca do mercado acionário é confiável. Desse modo, podemos nos limitar a observar a correlação entre o iBovespa e o mercado acionário norte-americano, usando como parâmetro o S&P 500 (índice composto por quinhentas ações qualificadas devido ao seu tamanho de mercado, sua liquidez e sua representação de grupo industrial nos EUA). Tendo como hipótese o choque negativo (mesmo que de curto prazo) que uma vitória dos extremistas nas eleições presidenciais teria sobre a bolsa norte-americana, devido à desconfiança e à ameaça que hoje eles representam para o mercado, podemos analisar de que maneira o iBovespa oscila em momentos de queda da S&P 500, ou seja, de queda do mercado acionário norte-americano. Numa primeira reflexão, é difícil imaginar qualquer correlação muito significativa entre os dois mercados por serem compostos de empresas tão diferentes. Mas, ainda assim, vejamos abaixo como se comportou o iBovespa (em vermelho) e a S&P 500 (em azul) nos últimos 10 anos:
[caption id="attachment_6646" align="aligncenter" width="765"]Numa análise bem esdrúxula, podemos considerar que ao olharmos para as oscilações dos dois índices nos últimos 10 anos, mesmo que o iBovespa tenha crescido mais por muito tempo, até dezembro de 2012 os índices tendiam na mesma direção. O iBovespa, geralmente subia quando o S&P 500 subia, e caía quando S&P 500 descia.Trata-se apenas de uma correlação e de uma análise simplista e, admito, forçada. Mas é evidente, que após esse período, ao final de 2012, qualquer padrão não poderia ser visto. Cada curva parece não ter relação alguma com a outra, enfraquecendo a correlação anterior*.Os motivos disso provavelmente são o estouro da crise brasileira e a consequente instabilidade econômica e política por razões domésticas. Segundo o site Macroaxis, uma plataforma online que oferece serviços de gerenciamento e análise de carteiras, a correlação entre o iBovespa e a S&P 500 nos últimos 36 meses foi de 0,02, ou seja, insignificante [8]. Desse modo, é difícil definir os efeitos sobre a Bovespa com Trump e Sanders e a respectiva hipótese de queda no mercado acionário norte-americano. A correlação apresentada nos últimos anos parece informar que a Bolsa de Valores no Brasil, pelo menos por enquanto, ainda deve ser mais afetada pelas questões domésticas.
A realidade
Apesar de Donald Trump e Bernie Sanders serem atualmente, as “grandes sensações” da disputa eleitoral norte-americana, é improvável que algum deles vença. E ainda se vencessem, dificilmente tais políticas econômicas seriam aprovadas no Congresso (o que decretaria apenas um choque temporário no mercado acionário norte-americano causado pelo temor). Trump não conta com apoio de seu partido, assim como Sanders, que ainda teria que lutar contra um legislativo, em maioria, republicano. Diferentemente do socialista, Trump deve vencer as primárias de seu partido, mas deve ser derrotado por Hillary Clinton, provável candidata democrata, em novembro, numa sinalização do desejo de manutenção do establishment e da ortodoxia econômica, mesmo que os fenômenos radicais Trump e Sanders tenham provocado um grande alvoroço nos Estados Unidos.
Assim, a economia e o mercado acionário norte-americano provavelmente seguirão nos passos de hoje, num processo de recuperação após a crise financeira de 2008 e com o mundo, em geral, crescendo de forma desacelerada. No final, a ortodoxia deve prevalecer, mas é pertinente a reflexão acerca de um desejo de mudança radical, representada por Donald Trump e Bernie Sanders, na maior e mais relevante economia do mundo.
Leonardo Metsavaht, aluno de graduação em Economia e membro da Liga de Mercado Financeiro da FGV-RJ.
* Um relatório da Canepa Asset Brasil para a Revista Investidor Institucional mostra que minha análise, embora forçada, faz sentido. Esse relatório estimou que a correlação entre o IBX (índice de ações da Bovespa que além de levar em consideração a liquidez dos papéis, atribui grande importância ao valor de mercado da empresa,) e o S&P 500 no período de 2006-14 foi de 0,72 e que a partir de 2011 essa correlação caiu drasticamente chegando ao mínimo de 0,37.
[1]http://www.dollarsandsense.org/What-would-Sanders-do-013016.pdf[2]http://www.forbes.com/sites/timworstall/2012/06/20/the-stupidity-of-the-robin-hood-tax-reaches-america/#72345d5a671e
[3]http://taxvox.taxpolicycenter.org/2016/03/04/sanders-proposes-an-historic-tax-increase-to-fund-new-social-spending/
[4]http://www.bloomberg.com/news/articles/2015-08-18/here-s-what-the-u-s-economy-would-look-like-if-trump-deported-undocumented-immigrants
[5]http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/10/1693151-china-e-india-contribuem-mais-que-eua-no-crescimento-mundial-diz-fmi.shtml
[6]http://www.project-syndicate.org/commentary/outlook-for-global-economic-growth-by-raghuram-rajan-2015-01?barrier=true
[7]http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2014/04/26/brasil-precisa-impulsionar-acordos-comerciais-com-os-estados-unidos.htm
[8]https://www.macroaxis.com/invest/market/%5EBVSP–compareProfile–%5EGSPC?dayRange=36
Outras fontes:
http://www.telesurtv.net/english/opinion/Why-Sanders-and-Trump-Are-a-Threat-to-the-US-Establishment-20160202-0001.html
http://www.newyorker.com/magazine/2016/02/22/trump-sanders-and-the-american-worker
http://www.libertarianismo.org/index.php/artigos/trump-sanders-sao-iguais/
http://finance.yahoo.com/news/how-bernie-sanders-would-remake-the-whole-u-s–economy-170549663.html
http://finance.yahoo.com/news/wall-streets-big-short-president-042220827.html
http://www.cnbc.com/2015/08/26/why-trumps-protectionist-ways-will-hurt-the-economy-commentary.html
http://www.wsj.com/articles/how-sanders-trump-threaten-market-confidence-1455730736?cb=logged0.45051798108033836
http://www.usnews.com/opinion/economic-intelligence/articles/2016-03-14/the-economic-danger-of-trumps-and-sanders-trade-proctectionism
http://www.forbes.com/sites/timworstall/2016/02/10/donald-trump-vs-bernie-sanders-not-a-great-prospect-for-economic-policy/#23d11fb06ba0
http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/paul-krugman/2016/03/08/trump-e-romney-abrem-debate-serio-sobre-economia-mas-ambos-falam-besteira.htm
http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/4666094/super-extremismo-das-eleicoes-nos-eua-pode-abalar-mercado-financeiro