A falácia dos planos de previdência privada: porque é um mau investimento

Poucas coisas são mais recorrentes para quem trabalha com investimentos e gestão patrimonial do que ouvir de alguém:

Resolvi dar um jeito na minha vida financeira, aceitei o conselho do gerente do banco e fiz um plano de previdência privada, que vai me ajudar a construir uma reserva financeira quando me aposentar.

Descontando-se o fato de que a iniciativa de fazer uma poupança mensal, seja em qual ativo for, é louvável dentro do espírito da Educação Financeira, a escolha por esse investimento é pouco interessante para o objetivo proposto, de constituir um bom patrimônio de longo prazo.

De todos os produtos financeiros desenvolvidos, poucos possuem melhor apelo mercadológico do que a Previdência Privada, um verdadeiro case de sucesso em marketing bancário. As pessoas, grande parte das quais, leigas em conhecimentos financeiros, realmente acreditam que fazer uma previdência é a melhor opção para a aposentadoria.

Segundo relatório da ANBIMA de janeiro/17, a indústria de fundos registrou um crescimento de 15% em patrimônio entre 2013 e 2016. No mesmo período de 3 anos, o volume aplicado em fundos de previdência privada cresceu 48%, mais que o triplo.

A previdência privada, no entanto, costuma ser um produto muito caro para o investidor, uma vez que na maioria deles há a incidência da taxa de carregamento na entrada e saída, o que faz com que parte do dinheiro aplicado pelo investidor nem chegue a ser investido de fato.

Além disso, especialmente em grandes bancos, as taxas de administração acabam sendo muito altas, significativamente maiores do que em outros produtos financeiros. Tal cobrança não parece fazer nenhum sentido, uma vez que planos de previdência têm políticas de investimento engessadas e conservadoras, que não exigem tanto do gestor para justificar a cobrança.

Como se não bastasse, a tributação para planos VGBL não é algo que compensa. No pior cenário, para quem pensa em fazer um resgate único de todo o dinheiro aplicado à alíquota cobrada de IR será de 27,5% sobre a rentabilidade como está na tabela progressiva de tributação. Já no melhor cenário, com a tabela regressiva de tributação, o IR será de 10%, mas o prazo médio dos aportes precisará ser superior a 10 anos, algo que raramente acontece. Outros produtos de renda fixa têm uma cobrança de imposto de renda muito menor e mais vantajosa, chegando a 15% em apenas dois anos.

Dessa forma, existem muitas outras opções de investimento que podem ser mais interessantes para quem pensa no longo prazo da aposentadoria. O Tesouro IPCA+, as antigas NTN-B, título disponibilizado pelo programa Tesouro Direto do governo federal, que paga uma rentabilidade definida previamente mais o índice IPCA (índice de preços ao consumidor amplo) do ano é um exemplo.

As LCI (letras de crédito imobiliário) e as LCA (letras de crédito do agronegócio) são outras escolhas que certamente oferecem melhor rentabilidade. A principal qualidade delas é a isenção de imposto de renda e a garantia pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para investimentos de até R$ 250 mil.

Uma análise com dados da Economática feito com os 933 fundos de previdência privada com mais de 36 meses revela que os rendimentos obtidos nos 36 meses compreendidos entre janeiro/14 e março/17, apenas 168, ou 18% do total, conseguiram atingir o CDI do período. Assim, 82% dos fundos de previdência provada obtiveram retorno inferior a qualquer fundo de investimento disponível que remunera o CDI ao investidor. É  pouco provável que uma carteira de investimentos contendo os produtos mencionados acima, além de fundos multimercado e de renda fixa, obtivesse resultado inferior ao obtido pela grande maioria dos fundos de previdência.

A conclusão é que a melhor forma de se fazer um bom plano de previdência é montar uma boa e conservadora carteira de investimentos. A despeito da ausência de previdência no nome, é esta carteira que deve assegurar uma aposentaria mais tranquila no longo prazo.

Gerson Caner

Mestre em Administração com ênfase em Finanças Comportamentais e graduado em Economia pela Universidade de São Paulo (FEA-USP, 1992). Possui MBA em Finanças (USP) e diversos cursos de especialização realizados no Brasil e Exterior (FGV, Insper, Universidade Nova de Lisboa, London School of Economics). Atuou como economista do Grupo Votorantim e como diretor de Fusões e Aquisições e Mercados Emergentes na consultoria Ernst & Young, onde foi responsável pelo programa Empreendedor do Ano. Atualmente é professor de Finanças Corporativas, palestrante de Educação Financeira e Finanças Pessoais e consultor de Investimentos (possui certificação ANCORD). Também é pai do pequeno Theo, o que só aumentou seu interesse por Educação Financeira e Finanças Pessoais.
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