Nova epidemia na China!

Diante do assombroso e crescente número de vítimas acometidas pelo coronavírus em Wuhan, maior cidade e capital da província de Hubei na China – aliado ao estado de emergência internacional já decretado pela OMS -, assistimos aterrorizados a mais um surto da H5N1, também chamada de gripe aviária. A gripe aviária é responsável por uma taxa de mortalidade de 50% dos casos.

Sim, isso mesmo! Depois de duas semanas que eu venho comprando máscaras, estocando atum em conserva e pasta de amendoim, bem como acompanhando as notícias da CNN madrugada a dentro, e de olho na bolsa de valores, os chineses ainda me vêm com essa “novidade”. Além de me preparar para uma dieta de enlatados, agora terei que abolir o frango e investir, de vez, num bunker no Vivos X Point!

Nada contra os chineses, muito pelo contrário! Os caras conseguem levantar em menos de 10 dias um hospital com mais de mil leitos, ao passo que a saúde tupiniquim segue empacada em licitações cujo início remonta quase o século passado. No que pese terem um governo ditatorial e comunista, os chineses nos dão um banho de competência e agilidade em gestão pública de obras!

Todavia, qual é o motivo para a vigilância sanitária da China nos parecer tão precária? Remontando uma época tão distante, em que no Brasil nem se comia porco, por causa de uma bactéria rara e desconhecida que causava uma morte lenta e eficaz. Até hoje há muita gente que não come porco no Brasil, e nada tem relação com a gripe suína, mas com a tradição higiênica nacional, por décadas cultuada, que disseminou a forma precária e insalubre com que currais de porcos eram tratados no Brasil.

H1N1, SARS, Coronavírus e, agora novamente a gripe aviária H5N1?  Todas doenças com origem na China, e já são tantas siglas, que acho que só mesmo os chineses conseguiriam decifrar os  grafemas e logogramas das doenças que procedem daquela região. Mas piadas a parte, será mesmo que não há profilaxia higiênica na China para que se evite a enxurrada de doenças e essa infestação de vírus da gripe?

Alguns fatores podem explicar essa concentração de enfermidades, um deles é a alta densidade populacional, bem como o agrupamento de familiares e agregados sob o mesmo teto, o que facilita a propagação de doenças. Outra variável é a quantidade de animais e abatedouros, assim como a proximidade destes estabelecimentos rurais dos grandes centros urbanos, robustos em termos populacionais. Esses fatores tornam os ambientes férteis para a proliferação, em larga escala, desta turma de supervírus, servindo para justificar a velocidade vertiginosa em que a taxa de contágio tem alcançado nas últimas décadas.

Juntamente com estes fatos, é importante também mencionar um certo engessamento hierárquico na gestão de crises, típico da centralização do governo de um só partido, que provoca uma demora na resposta às emergências sanitárias. Isso contribui para uma paralisia no momento em que se faz necessária a triagem e o regime de quarentena para os enfermos, fortalecendo o potencial de contágio em larguíssima escala.

Contudo, o que causa uma enorme estranheza é a facilidade de mutação dessas doenças na China. Fora a MERS, que foi identificada no Oriente Médio, parece que todas as notícias de novas doenças vêm se originando predominantemente na China.

Estaria a resposta no consumo desenfreado de animais silvestres, costume exótico e cultural do povo Chinês? Acho difícil, pois fosse assim, no século passado a China também teria sido a origem majoritária de outras enfermidades, fato que não se confirma na história.

Antigos escritos remontam que a peste bubônica, antes de atingir a Europa, fora disseminada inicialmente por mongóis no sul dos Himalaias, ou seja, ao que tudo indica, mais uma concepção made in China. Mas o fato é que, nem todas as doenças possuem origem necessariamente no Oriente, a exemplo da Gripe Espanhola, originada em Kansas nos EUA, ou mesmo a contemporânea vaca louca, originada, em tese, nas terras inglesas.

No entanto, nas duas últimas décadas a China tem sido, de longe, a campeã e o destino preferido da emergência destas novas moléstias.  Parece até aqueles cookies que ativam algoritmos nos mecanismos de viagem, e que parecem sempre nos levar para a mesma localidade. Ora, acho que os vírus e bactérias descobriram o Airbnb chinês!

A explicação que me parece mais elucidativa para este fato, tem menos relação com a cultura alimentar e mais com a condição sanitária e a higienização em que são tratados os mercados de animais em  todo o vasto continente chinês. O cerne dessa questão pode repousar nas práticas nada higiênicas que são utilizadas por estes mercados, que tem permitido um ambiente fértil para o acúmulo gigantesco de cepas virais. Ao assistir algumas das imagens do mercado de Wuhan, me parece evidente que tal estabelecimento era completamente precário no atinente à higiene sanitária.

Mas nós aqui também temos a dengue, a chikungunya e a febre amarela. O fato é que, mesmo com essa “diversidade” de enfermidades, o Brasil não tem sido origem de nada que tenha causado uma emergência global, e a nossa amada Amazônia, por exemplo, não vem consistindo em risco ou qualquer perigo para a saúde pública mundial. A maioria das doenças nacionais consiste em moléstias que vêm se mantendo, em parte, confinadas aos ambientes rurais ou aos nossos limites fronteiriços, principalmente aquelas cujos vetores são mosquitos tropicais.

Então, o jeito é continuar estocando atum em conserva e pasta de amendoim, a fim de acompanhar a propagação do coronavírus.

Arthur Valle

Mestre em Administração Pública pela EBAPE/FGV, MBA pelo Ibmec e autor das obras Fortuna Imperatrix Mundi – Um alerta para a crise global e A revolução do gás não convencional nos EUA: uma nova corrida do ouro?
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