Não é nenhuma novidade para as autoridades internacionais certas incertezas quanto a veracidade dos dados vindos do governo chinês, sejam referentes ao crescimento econômico, sejam relativos ao nível de disseminação de um novo vírus.
Notícias como as que uma mudança na forma do governo de diagnosticar o vírus, em Hubei, de um dia para o outro, aumentam os números em mais 15.000 contaminados e mais 242 mortes, ou “erros” como no site da Tencent, gigante chinesa de tecnologia, que informou no começo do mês 24.589 mortes por coronavírus (agora chamado de covid-19), mas corrigiu rapidamente para somente 304, só fomentam ainda mais as incertezas sobre as informações vindas do Partido Comunista Chinês e auxiliam para a criação de teorias conspiratórias.
Um alerta de que aproximadamente 60% da população global poderia ser contaminada pelo vírus chinês foi dado depois que o chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que casos recentes de pacientes com coronavírus que nunca haviam visitado a China poderiam ser a “ponta do iceberg“.
É difícil não comparar esse desastre epidemiológico, que vem sendo gerenciado de modo questionável, com informações não confiáveis, com pouquíssima transparência aos órgãos internacionais, com repressão à população e pouca importância aos direitos humanos, com um outro desastre em um governo com características muito parecidas: o Acidente Nuclear de Chernobil.
O Partido Comunista Chinês tentou conter a propagação de informações e omitiu sobre os níveis de disseminação do vírus, o que fez aumentar exponencialmente os riscos globais de contaminação, que só foram ainda mais amplificados pelos erros e segredos iniciais das autoridades chinesas. O governo, inclusive, repreendeu um médico de Wuhan que tentou alertar sobre a iminência do novo coronavírus, médico qual acabou sendo declarado morto pela contaminação, o que desencadeou mais protestos da população contra o governo.
Enquanto o Partido Comunista Chinês faz propaganda para sua população de seus hospitais construídos em 10 dias, tentando demonstrar eficiência, a preocupação da comunidade internacional continua aumentando, e as incertezas também.
O líder do partido em Wuhan foi substituído, o secretário do partido em Hubei foi demitido e em seu lugar assume o prefeito de Xangai. O governo já demonstra procurar culpados. Notamos aqui medidas muito parecidas com as do governo soviético perante a explosão da usina nuclear. A mídia internacional já chama o ocorrido de Chernobil Chinês.
Os protestos em solo chinês já eram destaques nos últimos anos, tanto na China Continental quanto em Hong Kong. De modo geral, a população chinesa vem demonstrando certo descontentamento com o regime, e demonstra ainda mais descontentamento sobre o modo como o Partido Comunista Chinês tem lidado com a crise atual.
Em tempos de propagação da informação, velocidade de ocorridos e uma estrutura social moderna e globalizada, a população das nações tem cada vez mais acesso rápido aos acontecimentos, aos dados e ao que acontece no mundo e no próprio país, mesmo sob um regime ditatorial como o da China comunista.
O Partido Comunista Chinês está em desespero com os impactos econômicos da disseminação do vírus. O crescimento da China já está mais lento em quase três décadas, o surto levou ao fechamento temporário de inúmeras fábricas e empresas, o mercado imobiliário da China demonstra estar entrando em colapso e as principais cadeias globais de suprimentos estão sendo interrompidas.
Chernobil acontece em 1986, e em 1991 a União Soviética é dissolvida. É evidente que a queda da União Soviética envolveu diversos fatores, geopolíticos e econômicos, mas invariavelmente o acidente de Chernobil ajudou a acelerar esse seu processo e piorou consideravelmente a visão da população sobre seu regime. No caso da China, pelo menos o líder do partido, Xi Jinping, deveria começar a se preocupar.