Uma resolução para a crise Irã-EUA?

O discurso com ar triunfal de Donald Trump após o ataque iraniano sem mortes às bases americanas no Iraque, apesar da persistente incerteza das futuras reações do Irã, trouxe um quê de fim de conflito e apaziguamento dos ânimos.

Em seu discurso, Trump deixou evidente que não há interesse em uma escalada militar com tropas e invasão. Mas o interesse é o de realizar pressão política e econômica através de sanções econômicas e de estratégia na eliminação de alvos específicos, seguindo a máxima de eliminar somente os líderes para vencer a guerra, utilizando drones e tecnologia, e evitando ao máximo baixas americanas.

Ali Khamenei, em seu discurso após o ataque às bases americanas, expôs os planos mais antigos do Irã, que Qasem Soleimani trabalhou com tanto afinco para atingir. Aumentar ainda mais a influência iraniana no Oriente Médio, expulsar as tropas americanas da região e continuar seu programa nuclear até o desenvolvimento de uma bomba atômica.

Desde o início de seu mandato, Trump tem tentado retirar suas tropas do Oriente Médio. Já diminuiu consideravelmente a presença americana na Síria e no Afeganistão e, se num futuro próximo, Washington e Teerã entrarem em um acordo eficiente sobre a interrupção do programa nuclear iraniano, torna-se uma possibilidade real a retirada praticamente completa das tropas americanas no Oriente Médio sob o governo Donald Trump.

Será muito difícil para a comunidade internacional confiar em um acordo de não desenvolvimento nuclear com o Irã, ainda mais levando em conta seu histórico e suas ações, orquestradas por Soleimani, de financiar e arquitetar milícias terroristas nos países em crise na região e suas constantes ameaças e ataques à economia global e ao Ocidente.

Não há certezas de que essa política de Trump irá funcionar, ou por quanto tempo será mantida. A imprevisibilidade de reações em regimes totalitários e déspotas é recorrente na história. Trump foi, definitivamente, extremamente audacioso e suas ações poderiam ter de fato levado à consequências nefastas para a região e para o mundo.

Porém sua estratégia aparenta ter funcionado. Seguiu a sua velha regra de pressionar, quase ao ponto de envergadura, e depois recuar, abrir espaço para o diálogo e negociação. Vimos esse mesmo Trump lidando com a Coréia do Norte, mas que não chegou tão longe como chegou com o Irã.

Talvez tenhamos aqui, seguindo um padrão no Partido Republicano, uma versão alaranjada de Ronald Reagan, sempre atacado pela mídia e elite intelectual do mundo, tirado como um insano ou inepto por estes, mas que enfrentou com veemência e perspicácia às ameaças da Guerra Fria e ajudou com que esta chegasse ao fim. Sempre sob a aura de que sua política levaria à uma guerra global.

Apesar de que, no curto prazo, a resolução do conflito aparente ser improvável, a situação, nos últimos meses, nunca demonstrou-se tão propícia para um acordo.

Pelo momento atual, com os líderes envolvidos, e ainda mais se tratando do Oriente Médio, a situação demonstra ser realmente imprevisível. Se o regime iraniano irá recuar, procurar negociação, e desistir de seu programa nuclear e da sua vingança por sua maior perda militar em séculos, não sabemos, mas nesse conflito geopolítico os Estados Unidos, sem dúvidas, saíram como superiores.

Donald Trump realmente tinha ideia do que fazia quando mandou executar Qasem Soleimani? Talvez nunca saibamos.

Michael Sousa

Mestre em Comércio Internacional pela European Business School de Barcelona, MBA em Gestão Estratégica pela FEA-RP USP, é graduado em Ciência da Computação e especialista em Strategic Foresight. Possui extensão em Estatística Aplicada pelo Ibmec e em Gestão de Custos pela PUC-RS. Trabalha com Gestão de Projetos, Análise de Dados e Inteligência de Mercado. Entretanto, rendendo-se aos interesses pelas teorias freudianas, foi também estudar Psicanálise no Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, e especializar-se no assunto e na clínica. Quando não passa seu tempo livre tentando desenvolver seu péssimo lado artístico, encontra-se estudando o colapso político-econômico das nações ou lendo vagos e curiosos tomos de ciências ancestrais.
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