A queda da Selic chegou ao fim?

Em sua última reunião, no dia 6 de fevereiro, o Comitê de Política Monetária (COPOM) decidiu por mais um corte na taxa básica de juros, o quinto recuo consecutivo, que, com a queda de 25 pontos percentuais, chega aos atuais 4,25% a.a. Trata-se do menor nível registrado dos juros brasileiros, e a tendência é que a taxa mantenha esse patamar ao longo de todo o ano de 2020, conforme estimativas do relatório Focus.

Esse indicativo de estabilidade, contudo, pode demonstrar a interrupção desse longo ciclo de cortes consecutivos e até mesmo uma possível alta da taxa Selic, uma vez que, conforme a ata da reunião, as alterações na taxa atual deverão aguardar melhor definição de cenários internos e externos, o que pode configurar a taxa atual como a menor no curto e médio prazo.

Assim, nessa reunião, o COPOM indica que deve adotar uma postura hawkish, que, em termos de mercado, significa a atuação rigorosa de um Banco Central frente ao nível de preços da economia. Essa postura indica o principal fator que norteará as decisões referentes às taxas de juros, mais altas, dada sua prioridade: o controle inflacionário.

O comitê descreveu em sua ata os aspectos para essa decisão de corte da Selic ser, provavelmente, a última. Entre tais fatores, resumidamente, temos:

Neste cenário, uma queda das importações chinesas afeta o Brasil de duas formas: menor quantidade de commodities exportadas e redução do valor exportado, dada a forte apreciação do Dólar frente ao Real. Este último fator, também chamado de deterioração dos termos de troca, deve se acentuar em 2020 em decorrência da desaceleração da atividade global e da redução do apetite por a riscos dos investidores.

No entanto, na visão do Comitê, as transformações recentes do mercado de crédito, com a expansão do crédito privado proveniente de recursos livres e de capitais, tendem a intensificar os efeitos da política monetária. Isto significa que tanto a redução quanto o aumento da taxa de juros referencial terão maior efetividade no controle inflacionário bem como na atividade econômica.

Ainda que, pelo lado da parcimônia, o COPOM siga enfatizando que movimentos futuros na política monetária são dependentes das expectativas para a inflação, (essa que por ora, se encontra ancorada), além da evolução da atividade econômica, esta ainda permanece em alto grau de ociosidade. Assim, nas palavras do Comitê, “a continuidade do processo de reformas” e “a perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira” são elementos fundamentais para a “queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia”.

Assim, a depender da melhora fiscal da economia, não são esperados novos cortes na queda da taxa básica de juros. Pelo contrário: é possível, em virtude de piora nos cenários internos e, especialmente, externos, que o Comitê estabeleça esse patamar de taxa de juros ou até uma pequena alta. A expectativa é para que em 2021 a taxa básica fique em torno de 6 pontos percentuais. Vimos, então, a menor taxa de juros da história do Brasil, marca que deverá ser mantida por muito tempo.

Para os investidores nacionais tudo isso leva a mudanças na forma de gerir seu dinheiro, num cenário onde os tradicionais fundos de renda fixa, que outrora distribuíam vultosa remuneração livre de riscos, perdem boa parte de sua atratividade, e exigem dos administradores financeiros, na tentativa de manter os patamares anteriores de rendimentos de carteira, a diversificação de seus portfólios, com uma cada vez maior proporção empregada em renda variável, e uma posição de tomada de maiores riscos.

Assim, a necessidade de inovar, empreender, chega aos fundos de mercado, que em cenário de inflação baixa, juros em queda e capacidade ociosa da indústria, irão corroborar com a expectativa de empreendedorismo de uma economia com possibilidade de aquecimento, caso essas expectativas sejam alinhada às prometidas reformas estatais visando a alocação mais eficiente dos escassos recursos dos investimentos nacionais.

Alex Cerqueira

É mestrando em Economia pelo IDP/Brasília, graduado em Economia pela Unicamp, com MBA em Gestão de Negócios pela USP e especialização em Finanças Empresariais, Business Intelligence e Estatística Aplicada. Gosta de conversar sobre as polêmicas da macroeconomia e da ciência política, e se aventura em Machine Learning.

Alexandre Lima

É mestrando em Economia pelo IDP/Brasília, graduado em Estatística pela UnB, com especialização em Matemática e Estatística pela UFLA, MBA em Finanças pelo IBMEC e MBA em Business Analytics pela FGV. Utiliza a estatística como ferramenta para conversar sobre economia e finanças, adepto da expressão “In God we trust, all others must bring data”.

Julio Konrad

É mestrando em Economia pelo IDP/Brasília, bacharel em Relações Internacionais da UnB e MBA em Gestão de Negócios pela USP.  Interessa-se por macroeconomia, discussões em economia política, papel do Estado e economia comportamental.

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