As diversas abordagens e escolas da economia

Se engana quem pensa na economia enquanto disciplina homogênea. Até mesmo a dita economia ortodoxa possui variações, seja em suas aplicações ou naquelas abordagens puramente teóricas. Essa discussão, aliás, não se limita aos campos da macroeconomia, microeconomia ou econometria. Na verdade, existem diversas abordagens e escolas na economia.

As diferentes abordagens da ciência econômica

Em princípio, aquilo que entendemos por ciência econômica está, grosso modo, sob duas categorias: macroeconomia e microeconomia. Esse é um tema explorado por Hal Varian em ‘The New Palgrave: A Dictionary of Economics‘.

O que é macroeconomia?

A macroeconomia lida, majoritariamente, com as relações entre os agregados econômicos. Exemplos desses agregados são as relações entre a oferta de moeda e a taxa de juros ou a taxa de crescimento, concentrando-se especificamente no estudo dos ciclos de negócios e da influência das políticas monetária e fiscal sobre os resultados econômicos (o que a torna, muitas vezes, politicamente carregada).

O que é microeconomia?

A microeconomia, por outro lado, trata das interações entre indivíduos (firmas ou famílias, por exemplo). Os comportamentos desses se desdobram em dinâmicas concorrenciais e até mesmo escolhas estratégicas (vide teoria dos jogos).

Qual a origem de ambos os termos?

Embora a origem da própria ciência econômica seja comumente associada ao séc. XVIII, as categorias ‘macro’ e ‘micro’ são relativamente recentes.

O economista Ragnar Frisch, por exemplo, reconhecia essa distinção, através dos termos macro-dinâmica e micro-dinâmica, já no início da década de 1930:

“A análise micro-dinâmica é uma análise pela qual tentamos explicar com algum detalhe o comportamento de determinada seção de um grande mecanismo econômico, tomando como dado que certos parâmetros são conhecidos […] A análise macro-dinâmica, por outro lado, tenta dar conta de todo o sistema econômica tomado por sua integralidade […]” (tradução do autor)

Na mesma época, John M. Keynes – o dito pai da macroeconomia – não fez uso literal dessa categorização. Ainda assim, reconheceu sua existência numa passagem da Teoria Geral:

“A divisão da Economia entre a Teoria do Valor e Distribuição numa mão e a Teoria do Dinheiro na outra é, creio eu, uma falsa divisão. A dicotomia correta está, sugiro, entre a Teoria da Indústria Individual ou Firma e a da recompensa e distribuição de uma dada quantidade de recursos numa mão, e a Teoria do Produto e Emprego como um todo na outra.” (tradução do autor)

Surpreendentemente, o pouco conhecido economista P. de Wolff inaugurou os termos “macro” e “micro” como os conhecemos hoje no ano de 1941:

“O conceito de elasticidade-renda da demanda tem sido usado com dois significados inteiramente diferentes: um micro e um macroeconômico. A interpretação microeconômica se refere à relação entre renda e despesa para uma certa mercadoria para uma única pessoa ou família. A interpretação macroeconômica é derivada da relação correspondente entre renda total e despesa total para um grande grupo de pessoas ou famílias (estratos sociais, nações, etc.).” (tradução do autor)

Escolas e tradições econômicas

Ainda que a economia ortodoxa seja a tradição mais popular e mundialmente dominante na academia, existem muitas outras escolas. A escola austríaca de economia, por exemplo, aceita algumas das visões ortodoxas sobre escolhas e restrições individuais, mas se diferencia ao enfatizar a incerteza e questionar a noção de equilíbrio e utilidade da modelagem matemática etc.

Os economistas institucionalistas se diferenciam da ortodoxia nos questionamentos à utilidade da teorização genérica e abstrata, optando por enfatizar, por exemplo, as normas e comportamentos de determinadas instituições. Contudo, a pesquisa aplicada na escola institucionalista, em geral, se aproxima das práticas ortodoxas. Os trabalhos mais recentes na área destacam os custos de transação, a existência de contratos incompletos e problemas do principal-agente.

A escola marxiana elabora, grosso modo, sobre as teorias econômicas de Karl Marx. Ainda assim, muitos dos pensadores dessas abordagens revisaram certos temas e conceitos tradicionais e até mesmo matematizaram as suas análises, aproximando-se do arcabouço comumente utilizado pela ortodoxia.

Além das apresentadas acima, temos socioeconomistas, preocupados com as normas sociais que governam as escolhas; os economistas comportamentais, que estudam o cerne psicológico do comportamento decisório; os pós-keynesianos, cuja ênfase analítica, tal qual Keynes, está na demanda. Os economistas evolucionários, que aplicam uma abordagem típica das ciências biológicas aos objetos tradicionais da economia; os neo-ricardianos, sempre voltados às relações entre classes econômicas; por último (e ainda longe de esgotar o assunto) temos os neuroeconomistas, pesquisadores dos mecanismos neurológicos subjacentes ao comportamento decisório.

Pode-se dizer que a economia é um empreendimento intelectualmente heterogêneo, até mesmo entre ortodoxos ou marxianos, não é mesmo? Sentiu falta de alguma abordagem ou escola neste artigo? Não seja um neoliberal (ironia), participe e enriqueça o debate para todos!

Paulo Silveira

Graduando em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) e ex-graduando em Economia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Trabalha com gestão de produtos digitais em startups brasileiras. Produz conteúdo sobre economia e tecnologia. Foi um dos vencedores do concurso nacional de resenhas organizado pelo Conselho Federal de Economia em 2017, escrevendo sobre a obra 'Princípios de Economia Política e Tributação' de David Ricardo.

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