Brasil: E se tivermos um golpe?

Ao vermos um desfile militar na capital arquitetado pelo presidente no mesmo dia em que o congresso pretende votar um assunto de real interesse ao poder executivo, sendo uma “trágica coincidência” ou não, é impossível não lembrarmos de movimentos parecidos que precederam golpes e ameaças mais sérias à democracias, recentes ou não, e que acabaram trazendo certa instabilidade ao mundo e para esses países.

Portanto, torna-se impossível para qualquer indivíduo que vem acompanhando as questões político-econômicas do Brasil não cogitar a possibilidade: E se tivermos um golpe?

A primeiro e imediato momento a comunidade internacional não veria com bons olhos (sem contar as consequências na economia, como alta de juros, desvalorização cambial e efeito inflacionário). Não estamos mais na Guerra Fria, onde regimes totalitários eram bem vistos e protegidos pelo Ocidente, desde que estivessem alinhados com os valores americanos e ajudassem no xadrez geopolítico contra o avanço do comunismo soviético.

Diferente do que aconteceu em 1964, a maioria dos países democráticos do mundo emitiria notas de repúdio ao movimento, com possibilidades reais de fechamentos de embaixadas.

Mas, poderiam mesmo as demais democracias e poderosos blocos econômicos do mundo exercerem alguma influência para tentarem minar um possível movimento totalitário em solo brasileiro?

A primeira resposta internacional, o isolamento diplomático, não exerceria qualquer efeito sobre o novo governo despótico e seus apoiadores. O Brasil já vive um nível de isolamento internacional jamais visto na história, o atual mandatário não é bem quisto pelas principais potências do mundo e esse movimento é até apoiado por parte de seus seguidores.

Além do mais, golpes costumam ser dados com justificativas liberais, sempre com o novo regime totalitário afirmando ser uma ação temporária que visa de facto estabelecer a democracia, no nosso caso, com possíveis argumentos de “eleições fraudulentas” que ameaçam diretamente a democracia e a República.

Apesar do Ocidente, o isolamento diplomático nacional não seria expressivamente relevante nos demais países ou blocos econômicos do mundo. O BRICS (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), mais expressivo grupo econômico que o Brasil faz parte, por exemplo, não teria resistência para esse movimento, já que é um grupo majoritariamente composto por países párias ao Ocidente e em regimes totalitários ou semitotalitários. Acerca do BRICS e um possível movimento militar no Brasil, só traria mais instabilidade e anseios parecidos para os outros países do bloco que ainda não possuem ameaças mais evidentes à sua democracia.

Portanto, para o Ocidente (EUA e União Europeia, mais especificamente), se demonstraria pouco frutífero o isolamento ou sanções econômicas ao país, haja vista os interesses que essas nações possuem em manter relações e um ambiente minimamente amigável conosco, não só por questões econômicas e de comércio (que poderiam afetar facilmente a relação econômica internacional), ou para contornar a diminuição da influência do Ocidente no mundo, algo que EUA e países europeus vêm tentando de forma mais contundente nos últimos anos, pois isolar o governo brasileiro só abriria espaço para mais influência russa e chinesa na América Latina. Mas, também, pelas questões ambientais e climáticas que se tornam cada vez mais importantes para a geopolítica moderna.

Dessa forma percebemos que, apesar de haver um ambiente internacional aparentemente pouco propício para um golpe de estado, seria um erro fundamental esperar demais das principais forças internacionais, pois estes não exerceriam real influência para conter ou anular um movimento do tipo no Brasil. Se houver alguma tentativa autoritária por aqui, isso só não se concretizará pela possível eficiência e estrutura de nossas próprias instituições e, definitivamente, não pela ação de agentes externos a nós.

Michael Sousa

Mestre em Comércio Internacional pela European Business School de Barcelona, MBA em Gestão Estratégica pela FEA-RP USP, é graduado em Ciência da Computação e especialista em Strategic Foresight. Possui extensão em Estatística Aplicada pelo Ibmec e em Gestão de Custos pela PUC-RS. Trabalha com Gestão de Projetos, Análise de Dados e Inteligência de Mercado. Entretanto, rendendo-se aos interesses pelas teorias freudianas, foi também estudar Psicanálise no Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, e especializar-se no assunto e na clínica. Quando não passa seu tempo livre tentando desenvolver seu péssimo lado artístico, encontra-se estudando o colapso político-econômico das nações ou lendo vagos e curiosos tomos de ciências ancestrais.
Yogh - Especialistas em WordPress