A pandemia do coronavírus tem trazido diversos pensamentos e aflorado reações em todas as esferas possíveis. Uma que não passa em branco, justamente por ser seriamente afetada, é a econômica. Afinal de contas, o fechamento de muitos negócios – seja por exigência dos governos, queda da demanda ou mesmo por espontaneidade dos gestores das empresas – afeta sim. Definitivamente não é situação fácil ter de jogar seu faturamento a zero ou quase zero por alguma motivação que independe do seu próprio negócio.
Neste momento em que flexibilizações da quarentena começam a acontecer em diversos lugares do Brasil e do mundo, mesmo levando em consideração que ainda não temos tratamento comprovadamente eficaz ou mesmo uma imunização contra o coronavírus, uma pergunta bastante delicada está na mesa de todos os gestores de negócios: é seguro abrir as portas agora?
Importante fazer a ressalva de que há negócios que são da chamada cadeia essencial e permaneceram abertos por todo esse período em que outros ficaram fechados. Nestes negócios há chances consideráveis de que a gestão já tenha (ou esteja muito próxima de) encontrado meios de aumentar a segurança de quem trabalha na empresa e de quem transaciona com ela de qualquer maneira. Também notável lembrar que, nessa caminhada a um novo normal, demandas já estão diferentes e quem não buscar se adaptar acreditando que “tudo voltará ao que era antes” tem chances não desprezíveis de se decepcionar. Terceiro ponto importante: muitos negócios já quebraram nesse período e os que estão aguentando as pontas devem estar loucos para retornar as atividades.
Ressalvas feitas, voltemos a pergunta: a depender da região em que você se encontra e do estado da pandemia ao seu redor, vale a pena reabrir as portas e voltar a faturar agora?
Mark Cuban, empreendedor dono do time de basquete Dallas Mavericks, recentemente soltou uma frase que faz muito sentido nesse momento: “como você trata seus empregados hoje [nesse período de pandemia] terá mais impacto sobre sua marca no futuro do que qualquer propaganda ou qualquer outra coisa que você tentar fazer”. É uma frase forte e bastante ampla, que importa muito para quem gere negócios. Na média, como você faz essa gestão importa o tempo todo. Mas, você se importa com períodos extraordinários também?
Em um mar de exemplos que sinalizam que talvez não se importe tanto assim com quem trabalha com você ou quem se utiliza de seus produtos e serviços – com reaberturas em momento precoce puramente baseadas no argumento “é preciso ganhar dinheiro” -, alguns exemplos chamam a atenção, como o desse bar em Ourinhos: em anúncio pelo Instagram informou aos seus clientes a decisão de, mesmo com flexibilização autorizada pela prefeitura, não reabrir as portas porque não sente que haverá suficiente segurança para isso. Veja só o comunicado:
Não é toda empresa que tem a capacidade de fazer isso. Ressalto aqui que, sim, muitos negócios inclusive já quebraram por não terem conseguido acesso aos meios de enfrentar esse período ou por não terem estrutura própria para isso. E, importante dizer, ninguém está demonizando ganhar dinheiro. Mas é de fato notável que, não sentindo segurança para funcionar, em qualquer que seja a situação – e em termos de saúde não há opção a vida -, a gestão deve tomar atitudes que não necessariamente coadunam com o que se esperaria em tempos regulares.
Para além de ler esse breve artigo e questionar sobre qual a intenção deste que vos escreve, deixo a reflexão direta a você que gere negócios ou conhece quem o faz: você se importa com quem está contigo ou apenas com o dinheiro que seu negócio faz?
“Um negócio que não produz nada além de dinheiro é um negócio pobre.” (Henry Ford)
Caio Augusto, Editor do Terraço Econômico, assina este artigo.