Há quem diga que, em economia, estudar a história do pensamento nada mais é do que visitar um museu de ideias. A fronteira do conhecimento avança rapidamente, nem tanta teoria, mais dados e métodos de análise. Como bem notou Pérsio Arida, não estamos falando de elementos antagônicos. Na verdade, podem muito bem ser complementares. Num mundo onde falar de ciência de dados é moda, faço um simples, porém, contraintuitivo, exercício: olhar para Adam Smith, Karl Marx e John M. Keynes com a linguagem de programação Python!
A Riqueza das Nações: there’s only one invisible hand!
O primeiro, por ordem de senioridade, é Adam Smith. O bom e velho pai da economia. Essa alcunha não é usada por acaso, como diria Delfim Netto: está tudo lá! Entretanto, alguns pensam que algumas coisas estão lá quando, de fato, a história é diferente. Estou me referindo, é claro, à malfadada mão invisível:
“[…] ele nem pretende promover o interesse público nem sabe quanto o está promovendo. […] procura apenas seu próprio ganho, e nisto, como em muitos outros casos, é só levado por uma mão invisível a promover um fim que não era parte de sua intenção. E tampouco é sempre pior para a sociedade que não tivesse este fim. Seguindo seu próprio interesse, ele frequentemente promove o da sociedade mais efetivamente do que quando realmente pretende promovê-la.”¹
Para quem reduz Adam Smith à metáfora da mão invisível, o trecho acima basta. Isso mesmo, essa é a única aparição dessa ideia em A Riqueza das Nações. Too much ado about nothing, isn’t it? Podemos recorrer à divertida biblioteca WordCloud para observar o que mais aparece na obra:
A Riqueza das Nações em 1000 palavras – código-fonte – arquivo .txt
O Capital de Karl Marx, o confuso
Nosso segundo economista é Karl Marx. Calma, se você discorda em denominá-lo economista, isso só foi uma provocação. O fato é que Marx teve ampla contribuição para as ciências sociais e outras coisas mais. Alguns preferem denominá-lo filósofo, mas no Brasil, apenas 4% de disciplinas de pesquisa em filosofia têm o pensador como tema ou referência. Deveras, outros nem tão versados em marxismo dizem que sua teoria econômica é obsoleta e que ele está morto.
Vivo ou morto, como sempre, temos Karl Marx, vulgo, o confuso:
O Capital em 1000 palavras – código-fonte – arquivo .txt
Teoria geral: desliguem as impressoras, pois Keynes é nosso!
O último e não menos polêmico é John M. Keynes. Desliguem as impressoras, pois Keynes é nosso! É preciso dizer que a analogia das impressoras é um tanto pobre, afinal, Keynes não é aquilo que dizem. Ao menos é o que diz Gustavo Franco:
“John Maynard Keynes […] desprezava os heterodoxos e dizia que a luta de classes sempre o encontraria ao lado da burguesia educada. Na verdade, para os que acreditam em mercados e no capitalismo, o pragmatismo se chama Keynes. É dele que as pessoas falam quando é preciso inovar e produzir uma “resposta criadora” diante de uma urgência grave e inesperada. […] Fica-se com a impressão de que “intervenções do Estado no domínio econômico” têm mais chances de funcionar quando feitas por gente que acredita em mercados e que vê a intervenção como exceção, não como regra.”
Talvez Keynes buscava, por meio da intervenção econômica, revigorar uma antiga hegemonia? Talvez. Assunto para outro momento, vamos ao gráfico da Teoria Geral:
A Teoria Geral em 1000 palavras – código-fonte – arquivo .txt
Embora as análises apresentadas neste artigo sejam de natureza simples, meu ponto é o seguinte: num mundo devorado pela tecnologia em tempo real, o economista precisa se reinventar! Muitos cursos de graduação contam com disciplinas de introdução à computação. Em geral, trata-se de um professor de computação (que pouco conhece a economia) lidando com dezenas de estudantes de economia (que pouco conhecem a computação). Isso se traduz numa falta de propósito, porque aprender programação?
O porquê, creio eu, é algo intrinsecamente individual. Ainda assim, com um pouco de criatividade temos construções contraintuitivas, justamente o que tentei fazer com história do pensamento econômico e Python.
Ofereço, aos interessados, o “como”: um manual de programação para economistas! Mesmo em construção, trago o projeto à público. Fruto do curso de extensão Programação para Economistas, ministrado por mim na Universidade Federal de São Carlos, é livre! Pode copiar, modificar ou distribuir, é claro, sempre mantendo créditos à versão original.
Espero, confesso, que a comunidade ofereça um ‘empurrãozinho’ para o término do projeto. Programar é uma habilidade útil, principalmente numa academia que não está imune à destruição criadora, com exceção, sempre, dos refúgios para pensamentos econômicos jurássicos.
Texto dedicado aos meus alunos: Aline, André, Ariane, Cássia, Felipy, Fernando, Gabriel, Gustavo, Leonardo, Letícia, Rafael e Thiago.
¹Vide Adam Smith – A Riqueza das Nações. Tradução de Norberto de Paula Lima.
Execelente conteúdo, obrigado.
Infelizmente o ensino publico nao oferece essas ferramentas aos alunos. Percebo dentro de sala que alguns professores de UF’s sao pouco qualificados para o seculo XXI.
O que devo fazer?
Optei por obter notas ruins e me preparar melhor para essa tendencia global – analise de dados – espero ter tomado uma boa decisao.
Forte abraço e obrigado novamente.
Excelente*
Nao consegui corrigir.
Obrigado pelo comentário, Pedro!