Trump no Twitter: a guerra de palavras que contam a história

Depois de concorrer e vencer o pleito presidencial em uma das eleições mais acirradas da história dos Estados Unidos, Donald Trump vem mostrando ao mundo uma nova forma de fazer política: usando uma conta no Twitter. Ele critica, parabeniza e até demite gente por meio da rede social do pássaro azul, provocando a ira de alguns e a admiração de outros quase todos os dias. Nenhum outro presidente no mundo tem usado tanto os meios digitais para opinar sobre os mais diversos assuntos, como ele tem feito ultimamente.

Mas o que será que os dados podem nos revelar acerca dessa figura icônica e polêmica?

Por meio da API do Twitter, pegamos os últimos 320 tweets publicados pelo atual presidente, de janeiro/2017 até abril/2018. Também avaliamos o que a mídia fala sobre ele, além dos seus seguidores. A análise e modelagem foi toda realizada em R e quem quiser dar uma olhada no código utilizado, basta requisitar nos comentários, ao final desse artigo. Os resultados são apresentados a seguir.

Trump usa palavras simples para mostrar o que pensa

A partir dos tweets enviados por Donald Trump no período mencionado, foi realizada uma análise de sentimentos, que nada mais é do que classificar as palavras mais frequentes entre ‘positivas’ ou ‘negativas’. Primeiro, vamos analisar as palavras mais frequentemente utilizadas pelo presidente americano:

A guerra de Trump contra grande parte da mídia está evidenciada na palavra central do quadro: ‘fake’. Muitas vezes chamada de Fake News, grandes canais de mídia são duramente contestados e até mesmo desqualificados por Trump quando publicam notícias de cunho negativo a seu respeito.


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Note que as outras palavras em destaque são bastante simples, considerando o linguajar utilizado por Trump na Rede Social.

Ao analisarmos os termos negativos, vemos mais uma vez que a dor de cabeça de Trump está concentrada no combate a mídia “Fake News” e contra a ideia de envolvimento do seu governo com os russos. Já entre os termos positivos mais propagados por Trump, verificamos seu orgulho em promover as reformas e iniciativas que seu governo vem empregando, como a reforma fiscal, saída de acordos comerciais desvantajosos, entre outros.

Analisando o histórico dos tweets de Trump, podemos verificar que, se subtrairmos os termos positivos dos termos negativos, o saldo é positivo ao longo de todos os meses analisados, embora com alguma sazonalidade.

Trump parece ser mais duro com as palavras no início do ano, fica mais otimista ao longo do ano, mas volta ao pessimismo ao final do ano. No começo de 2017, o negativismo de Trump era resultante da intensa campanha para a presidência contra a democrata Hillary Clinton, no qual o republicano desenhou um cenário preocupante para a economia e o ambiente dos EUA, obviamente fazendo uso de palavras de cunho negativo. Já em dez/17 e jan/18, o resultado pode ter sido influenciado pela paralisação dos serviços públicos (shutdown) provocado pela indefinição do novo teto de dívida que devia ser definido pelo Congresso. Com republicanos e democratas batendo cabeça, Trump pegou o seu celular e esbravejou pelo Twitter.

Mas o que andam falando sobre Donald Trump?

Primeiro, vamos analisar o que diz a CNN, mídia de comunicação classificada por Trump como “Fake News” quase sempre que se refere a ele.

Parece mesmo que a CNN não tem muita simpatia pelo presidente americano. Ao citar Trump em seus tweets a CNN costuma referenciar o presidente americano como ‘stormy’ (pessoa com temperamento forte, explosiva). Mesmo quando analisamos os termos positivos parece que a TV americana não costuma tecer muitos elogios a Trump, como mostra a utilização das palavras ‘rich’ e ‘fans’¹.

E se olharmos seus principais seguidores? O que eles têm falado sobre Trump?

Apesar dos americanos, assim como os brasileiros, estarem divididos no espectro político, Trump parece estar restaurando o patriotismo americano. Ao contrário do que se acredita ao assistimos os noticiários na TV, os americanos parecem relacionar Trump ao desejo de paz, principalmente após a série de tweets relacionados ao acordo de desnuclearização na península coreana, firmado entre Kim Jong Un e Donald Trump.


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Como Trump está longe de ser uma unanimidade entre os americanos, o presidente americano também é frequentemente mencionado por adjetivos carinhosos, como: “burro”, “mentiroso” e “estúpido”, mostrando uma repulsa pela personalidade do presidente.

As redes sociais tem sido um aspecto de crescente importância nas eleições. Elas promovem um fluxo de informação instantâneo que atinge todos, não apenas os aqueles que assistiam um determinado noticiário com hora marcada. Assim, as eleições passam a usar as redes sociais para trazer para o processo os eleitores que normalmente têm estado à margem do processo. Nesse sentido, Trump, apesar de seu temperamento intempestivo, mostra-se habilidoso no uso das redes sociais e faz do Twitter um poderoso canal de comunicação e utilizando a rede para estabelecer uma conexão muito forte com milhões de americanos que agora o apoiam de forma incondicional.

Assim, com apenas 280 caracteres, Trump consegue incendiar milhares de seguidores ou confrontar qualquer um dos seus críticos.

Anderson Nunes Coelho Engenheiro de Computação da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. Está terminando uma pós graduação na FGV em Business Analytics e Big Data, onde espera, a menos dos dados, descobrir alguma verdade. Gosta de dividir seus dias entre a adrenalina da Capital e o desfrute de finais de semana de calmaria no interior de São Paulo em sua cidade natal. Atualmente, trabalha em uma empresa de consultoria para MPEs e possui experiência em projetos de consultoria em sistemas de inteligência de negócio para empresas de diversos setores.

Arthur Solow É editor do Terraço Econômico

Referências

¹Esse é um claro exemplo de como ainda há um campo extenso de evolução das análises de text mining, a exemplo desse trabalho. Provavelmente o termo ‘fans’ foi utilizado para designar os apoiadores de Trump, mas o algoritmo definiu que aquele termo tinha conotação positiva, assim como a palavra ‘rich’. Contudo, o algoritmo não é muito eficiente em perceber quando trata-se de ironia ou sarcasmo, e acaba pegando o significado ao pé-da-letra.

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)
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