A sabedoria histórica do bom uso das palavras segundo os Espartanos

Muitas vezes na história as palavras foram as forças mais poderosas frente aos inimigos mais poderosos, e trouxeram esperança e fervor para diversos povos contra a tirania de seus algozes.

A Lacônia é uma região ao sul do Peloponeso e sua capital é a cidade histórica de Esparta. Os espartanos, entre outros povos, eram conhecidos pela região onde residiam, logo, também eram chamados de lacônicos. O termo lacônico, no decorrer do tempo, tornou-se adjetivo de pessoa sucinta, breve, de poucas palavras.

Essa característica tornou-se marcante desse povo, e o termo perdura por mais de 2 mil anos. Porém, um pouco de discrição não é o bastante pra criar um termo e marcar a história. Há diversos relatos sobre o laconismo espartano, tanto em batalhas quando em situações não tão hostis.

Leônidas, o rei espartano durante a Batalha das Termópilas, como um bom espartano, era lacônico e rápido em suas respostas, geralmente simples, mas muito bem aplicadas.

Xerxes, o Imperador Persa, enviou um emissário para negociar com Leônidas. Pedindo somente Terra e Água; se o rei espartano aceitasse o termo e lhe cedesse isso, significava, basicamente, um acordo de total submissão ao Império Aquemênida.

Quando Leônidas se recusou a se submeter, o mensageiro lhe disse: “Nossas flechas serão tão numerosas que irão tapar a luz do sol”. Leônidas responde:

“Tanto melhor, combateremos à sombra!”

Certa vez uma mulher ateniense perguntou a Gorgo, esposa de Leônidas e rainha de Esparta, porque as mulheres espartanas eram as únicas gregas que mandavam nos seus homens; ao que ela prontamente diz:

“Ora, porque somos as únicas que parimos homens de verdade.”

Era comum quando os filhos de Esparta despediam-se de suas mães para partir para a guerra, elas lhes diziam: “Meu filho, volta com teu escudo, ou em cima dele”, ou seja, volte vitorioso ou morto.

Porém, há histórias que marcam mais que outras.

Filipe II, o Grande Rei do Império Macedônico, estava formando o que viria ser, nas mãos de seu filho Alexandre, O Grande, um dos maiores e mais poderosos exércitos de todos os tempos.

O rei macedônico sempre almejou dominar a Grécia, e aproveitando o enfraquecimento das Cidades-Estado por guerras internas no Peloponeso, atacou. Em pouco tempo, o Rei Macedônico dominou quase todas as Cidades-Estado da Grécia, incluindo Atenas. Esparta era, então, a última potência grega livre.

Filipe II, antes de planejar qualquer ataque ao poder espartano enviou-lhes um emissário com uma carta que, além de demonstrar seu poder e de esbanjar as recentes conquistas de seu Império, inclusive, o seu maior rival histórico, Atenas, dizia algo como:

“Aconselho vocês, espartanos, a submeter sua cidade sem mais atrasos, porque SE nós invadirmos a sua cidade, nós vamos queimar suas fazendas, destruir os seus templos, massacrar o seu povo e, definitivamente, destruí-la.”

O senado espartano enviou uma carta respondendo a Filipe II com simplesmente a seguinte escrita:

SE

“Se” invadirem, “se” conseguirem passar pelos soldados espartanos, “se” conseguirem cruzar os portões da cidade. Esse simples “se” enviado pelo senado espartano significava e amedrontava mais que qualquer discurso erudito de algum político de Atenas.

A repercussão dessa mensagem ao poderoso Império Macedônico foi tão grande por toda a Grécia que Filipe II nunca tentou invadir Esparta. Avançou seus exércitos para os persas, mas nunca ao sul do Peloponeso.

Somente quem conseguiria dominar por completo toda a região da Grécia e impor sua hegemonia seria seu sucessor, Alexandre, muitos anos depois do ocorrido.

Dos discursos de Churchill ao laconismo espartano, sua disciplina e sagacidade com as palavras, deixam mais que evidente que o poder, a influência e a capacidade de comunicação, confiança e clareza em transmitir uma mensagem ou defender um ponto de vista são características inegáveis de um bom líder. Os líderes que souberam lidar com elas, as palavras, tiveram o poder, não só de inverter situações ou alcançar seus objetivos, mas de mudar o curso da história. E não conseguiriam tal feito se não se atentassem, com perspicácia, à fundamental importância das palavras.

 

 

Michael Sousa

Mestre em Comércio Internacional pela European Business School de Barcelona, MBA em Gestão Estratégica pela FEA-RP USP, é graduado em Ciência da Computação e especialista em Strategic Foresight. Possui extensão em Estatística Aplicada pelo Ibmec e em Gestão de Custos pela PUC-RS. Trabalha com Gestão de Projetos, Análise de Dados e Inteligência de Mercado. Entretanto, rendendo-se aos interesses pelas teorias freudianas, foi também estudar Psicanálise no Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, e especializar-se no assunto e na clínica. Quando não passa seu tempo livre tentando desenvolver seu péssimo lado artístico, encontra-se estudando o colapso político-econômico das nações ou lendo vagos e curiosos tomos de ciências ancestrais.
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